Adoro ovos. Atualmente estou na fase dos cozidos, fervidos durante 7 minutos; nem mole, nem duro — o meio do caminho perfeito. Já tive a época dos 3 minutos, quando eu abria um buraquinho em cima, e ficava molhando uma tira de pão dentro daquela caverninha perfeita até não sobrar mais nada. Me trazia tremenda satisfação concluir os trabalhos, deixando só a casca. Em inglês, esse prato tem até um nome: Eggs with Soldiers.
Antes dos cozidos, gostava dos mexidos. Sempre bem cremosos, mas consistentes. Só os fritos que nunca curti muito; tem algo sobre a textura da clara que me incomoda.
Na fase atual, consumo tantos ovos que já foi motivo de preocupação, até ouvir de uma médica que eles são o alimento mais completo que tem. Fui ver se era verdade, e caí nesta matéria, que começa assim:
Saber se nasceu antes ou depois da galinha é o menor dos questionamentos existenciais do ovo. Esta pequena proteína oval que fica na porta da geladeira é muito mais complexa que um simples omelete no café da manhã. O ovo é crucial para a ciência, economia, biologia, religião, saúde e cultura… No princípio, Deus criou o ovo. Pelo menos para uma boa parte das religiões espalhadas pelo mundo, o universo e deuses nasceram desta proteína divina, muito antes do cristianismo apresentar o gênesis. Na maioria das religiões e mitologias, o que você frita todo dia na frigideira é um símbolo de vida, renascimento e fertilidade. Ou seja: aquele seu amigo que espera todo ano seu aniversário para te dar aquela ovada quer mesmo sua felicidade, afinal.
Na mitologia chinesa, por exemplo, o universo era um ovo deitado, onde também morava uma entidade chamada Pan-Ku. Ao longo de 18 mil anos, ele cresceu, quebrando o ovo e surgindo o mundo que conhecemos. Lá dentro também existia o equilíbrio perfeito bem conhecido no ocidente: Yin e Yang. Na mitologia do Egito Antigo, o Deus Sol, conhecido como Rá, teria nascido de um ovo. Antes do cristianismo, a Ucrânia cultuava o Deus eslavo Dazhbog, que também vinha da proteína da galinha. Na Pérsia, o início da primavera era celebrada com ovos coloridos representando o renascimento. Mais tarde, essa tradição influenciou em outra: os ovos da páscoa. No candomblé, o ovo se torna uma peça chave para a religião. “O ovo acompanha todos os ritos de passagem da religião de matrizes africanas. É um segredo e o ensinamento que poucas pessoas possuem. Não entraremos em detalhes, mas você entra no mundo do candomblé com o ovo e sai com o ovo também. Dando nomes aos bois, o ovo está no ritual de iniciação do candomblé e no ritual para entrada no mundo dos mortos também. O ovo significa a vida e o nascimento”, explica Vilson Caetano, babalorixá, Professor da UFBA e Doutor em Antropologia.
Pararei por aqui para poupá-los, até porque a qualidade do artigo é bastante questionável, mas abriu-se uma nova janela no meu cérebro. Tenho viajado em pensamentos do tipo: será que estou amando ovos mais do que nunca, porque estou vivendo um momento de renascimento? Viagem, eu sei. Enquanto não tenho as respostas das grandes questões da vida, deixo aqui a minha gratidão aos ovos.
Com amor,
Paula
A Feira do Livro no Pacaembu 📚
Como foi bom o sábado que passei na Feira do Livro. Aliás, foi lá que nasceu o texto sobre ovos, depois que ouvi a Natalia Timerman e o Christian Dunker falarem sobre eles como símbolos de ciclos. Aqui vão algumas frases que anotei do papo, que foi mediado pela Tati Bernardi, sob o tema “Infinitos Lutos”:
“Escrita é o que a gente faz, quando não tem mais o que fazer”
(Sobre o luto) “Existem códigos para passar por ele; outras pessoas já passaram por isso antes. Ele te torna mais humano”
“A vida passa a significar outra coisa, depois que você perde alguém”
Citação do David Sedaris: “O que as pessoas que não escrevem fazem para lidar com as emoções?”
Citação da Noemi Jaffe: “Literatura é sobre como, e não sobre o que”
“Tudo que se perdeu faz com que a gente seja como a gente é”
“Estar diante da morte, é estar diante da vida"
Depois desse papo leve (rsrs), foi vez de ouvir a Lenora de Barros conversar com a Ana Carolina Ralston. O ponto alto foi presenciar a artista recitar seu poema Garotas Pop ao vivo, com toda potência que lhe cabe.
No período da tarde, ouvi as filantropas Neca Setubal e Inês Mindlin Lafer conversarem sobre transformação social com a podcaster Carol Pires. A Neca ressaltou a importância de fortalecermos a democracia para podermos resolver dois desafios gigantes que temos hoje: desigualdade social e mudanças climáticas. Para isso acontecer, ela enfatizou a necessidade de uma sociedade civil engajada. Saí da conversa querendo saber mais sobre o Jardim Lapenna, primeiro projeto de urbanismo social da cidade, que conta com o apoio da Fundação Tide Setubal.
Terminei o dia ouvindo o sempre charmoso Martinho da Vila falar com a Adriana Couto a respeito de seu novo livro, Martinho da Vida. Descobri na conversa que o cantor já escreveu mais de 20 livros! Ainda assim, os melhores momentos foram quando Martinho cantarolou alguns de seus sucessos... Até porque, como ele próprio disse, “essencialmente sou músico”.
Infelizmente não consegui voltar no domingo para ver os autores Caetano Gallindo, Camila Sosa Villada, Eliana Alves Cruz, Rui Tavares, entre tantos outros que compunham a ótima programação. Mas, retornei na quarta-feira para ouvir o papo entre Gregorio Duvivier, Bruna Beber e Fernando Luna, que foi uma delícia. É sempre bom escutar as pérolas do Gregorio, e foi um privilegio ouvir a Bruna recitar seus poemas ao vivo, principalmente este aqui:
romance em doze linhas
quanto tempo falta pra gente se ver hoje
quanto tempo falta pra gente se ver logo
quanto tempo falta pra gente se ver todo dia
quanto tempo falta pra gente se ver pra sempre
quanto tempo falta pra gente se ver dia sim dia não
quanto tempo falta pra gente se ver às vezes
quanto tempo falta pra gente se ver cada vez menos
quanto tempo falta pra gente não querer se ver
quanto tempo falta pra gente não querer se ver nunca mais
quanto tempo falta pra gente se ver e fingir que não se viu
quanto tempo falta pra gente se ver e não se reconhecer
quanto tempo falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu.
Gostaria de parabenizar a Quatro Cinco Um pela realização do festival. Além da ótima organização e curadoria, o fato de ser de graça, e em um espaço público da cidade, não tem preço! Vida longa a Feira do Livro!
Quero maiZ: o evento vai até domingo, e a programação deste final de semana está incrível. Tem mesas com Jamaica Kincaid, Vera Iaconelli, Lilia Guerra, Joca Reiners Terron, Marcelo Rubens Paiva, Martha Nowill, Maria Adelaide Amaral, João Moreira Salles, entre outros. Não percam!
Noite de Estreia com Camila Sosa Villada no Cineclube Cortina 🎙
A programação literária da semana se estendeu até o Cineclube Cortina, onde foi realizado o encontro Noite de Estreia na quarta-feira. Realizado pela Companhia das Letras e pela Fósforo, o evento uniu a autora argentina Camila Sosa Villada, e os atores Caio Blat e Fabia Mirassos, em uma noite em torno dos novos livros de Camila (Tese sobre uma domesticação e A viagem inútil). Adorei estar perto da autora, cujo livro O Parque das Irmãs Magníficas eu gostei bastante, e de participar de um novo formato de evento que reuniu literatura, teatro, música e festa.
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Quero maiZ: o Cineclube Cortina é um estacionamento que virou cinema, projetado pela Metro. Recomendo conferirem a programação — tem sempre bons shows, festas e, claro, sessões de cinema.
Festivais no Ibirapuera 🌳
Nem só de literatura vive a pessoa! No último final de semana, também participei de dois eventos muito especiais na Parque Ibirapuera, sendo eles:
Feira Naturebas: idealizada pela Lis Cereja, a Naturebas é hoje a maior feira independente de vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos da América Latina. A edição deste ano, a 12a, trouxe 180 expositores provenientes de 14 países para a Bienal. Além do Brasil, os vinhos vieram da Itália, França, Portugal, Espanha, Croatia, Geórgia, Peru, Bolivia, Chile, Argentina, Uruguai e até da Guatemala! Gostei muito de encontrar produtores que adoro como a Vivente, Lazy Winemaker, Era dos Ventos, Casa Viccas e a Pheasant’s Tears, vinícola georgiana que visitei ano passado durante a minha excursão ao Cáucaso. Havia também boas importadoras, como a Uva, Peso da Régua e Mega Sake, e marcas artesanais de outros produtos que gosto muito como: A.Mar (pesca artesanal), Lano Alto (queijaria), Mission Chocolate, Lida (pães e sorvetes), Mbee (mel) e Pardinho (queijaria que está começando a se aventurar nos vinhos). Não vejo a hora da próxima edição.
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Festival Turá: fechei o final de semana com chave de ouro ouvindo Adriana Calcanhotto, Alcione e Djavan no Turá. A energia do festival estava ótima; leve e descontraída, fazendo todos cantarem juntos nos gramados do parque. Já estou em contagem regressiva para o próximo!
Agenda da NAZA 🚀
Para ficar por dentro de festas, festivais e muito mais, assine a Agenda da NAZA. A edição de julho acabou de chegar, e está recheadissima.
Cais 🐟
Voltei recentemente ao Cais, e arrisco dizer que estava ainda melhor do que nas outras vezes. Na minha opinião, o restaurante é um dos melhores da cidade, principalmente quando se trata de peixes e frutos do mar.
Começamos com duas variedades de ostras — divinas! — e seguimos com o crudo de peixe, carpaccio de lagostim, vinagrete de polvo e tartar de atum. O grand finale foi uma grande nadadeira de garoupa, acompanhada de quiabos e cogumelos… éramos muitos, e tínhamos fome! Aliás, recomendo irem famintos para provarem o cardápio todo. 10/10.
Bom final de semana para todos, com recado do Martinho!
Adorei!
Excelente rico em conteúdo