A forma como as pessoas dão presentes é algo que me intriga. Presentear é uma arte, que eu com certeza não domino, mas que pratico de algumas maneiras diferentes.
A primeira delas é me fazendo de blasé, e só não dando nada (desculpe amigos). Isso normalmente acontece quando acho que nenhum presente vai ser bom o suficiente, então decido que a melhor opção é não dar nada. Vai entender... O bom é que com os anos, isso tem acontecido cada vez menos (devo estar criando um pouco de vergonha na cara).
O segundo cenário, que acontece com mais frequência, é o que chamo de “presente fofo, porém inútil”. Nesse caso, não só dou algo, como penso até na cor do laço da embalagem. Tenho inclusive uma caixa com cartões que vou comprando nas livrarias e museus por onde passo, e na hora de dar um presente, escolho a dedo um cartão especificamente para aquela pessoa.
Eu adoro esse gênero de presentes, mas reconheço que na maioria das vezes eles são zero práticos, para ambas as partes. Um exemplo clássico foi quando levei uma enorme caixa chinesa do século XVI, de um antiquário paulistano até a Baviera, para presentear um casal de amigos alemães que estava se mudando para Beijing. Peguei dois voos, dois trens e um carro com aquele trambolho, que deve estar trancado em um depósito na Alemanha desde que eles se mudaram para a China (para não dizer o pior). E tudo porque me recusei a escolher uma faca ou um espremedor da lista de casamento, que eu poderia ter comprado em três cliques, e teria sido entregue na casa deles no mesmo dia.
Por fim, participo das infindáveis vaquinhas. Provavelmente para evitar presentes de pessoas como eu, sou sempre incluída em grupos que se unem para dar presentes bem práticos, como uma panela ou uma carteira. Não é a minha praia, mas reconheço que é uma ótima forma de dar algo que a pessoa “vai usar sempre” ou que ela “esteja precisando”, uma arte que até hoje eu não consegui aprender.
Me conta como você dá um presente? Qual foi o mais legal que você já ganhou? Um presente deveria cumprir alguma função? A sua resposta vai ser um presentão para mim, e quem sabe assim não aprendo a arte de presentear.
Com amor,
Paula
Rimowa 🧳
O que me inspirou a escrever o texto acima foi esse presente que ganhei na semana passada.
Sim, essa bebê, azul da cor das geleiras patagônicas, agora é minha. Ela chegou desafiando ainda mais a minha tentativa de desvendar “a arte de dar presentes”.
Por um lado, ela não poderia ser mais prática e multifuncional. Só estou na dúvida se vou usá-la como um banco para os meus convidados se sentarem, um baú para guardar os meus livros, ou uma cama acolhedora para a Bruschetta. Para viajar, está fora de cogitação; ela é bonita demais, e preciso protegê-la das esteiras imundas e porões perigosos que se encontram em aeroportos por aí.
O curioso é que mesmo sendo muito útil, esse presente conseguiu me tocar no mesmo lugar que busco alcançar quando dou presentes inúteis. Ser reconhecida por uma das marcas que mais admiro desde sempre foi muito gratificante. Está difícil de acreditar. Obrigada Rimowa, esse é só o começo da nossa viagem.💙
Eu de Você 🎭
Essa foi de fato a semana dos melhores presentes.
No domingo, eu estava prestes a comprar um ingresso para ver a peça Eu de Você, quando uma amiga me convidou para ir com ela naquele mesmo dia. Mesmo estando com uma ressaca significante, não pensei duas vezes e aceitei o convite; eu estava louca para ver a peça, desde que ouvi este podcast.
O monólogo de Denise Fraga foi sem dúvidas a melhor peça que assisti esse ano. Durante 90 minutos que passam como um piscar de olhos, Denise nos faz rir, chorar, cantar e dançar, em um espetáculo que funciona quase como um manual da vida. Olha que bonita a forma como ela o descreve:
“Que seria de nós sem os poetas? E o que seria deles sem a vida comum? É dessa mistura que surge a ideia do nosso Eu de Você. O que tem em comum a Cris, o Paulo Leminski e o Zezé di Camargo? Tchekhov, eu e Francisco? Pelo que a avó do Felipe estava chorando enquanto os Beatles compunham mais uma canção? O que fará o Wagner quando ouvir o que Chico Buarque fez com o seu também coração partido? Costumo dizer que a arte ajuda a gente a viver, que quem lê Dostoievski e Fernando Pessoa, no mínimo, vai sofrer mais bonito. Porque sofrerá com companhia, sofrerá com a cumplicidade dos poetas. Entenderá que fazemos parte de algo maior, que pertencemos à roda da humanidade, seus dilemas eternos e sua fatídica imperfeição”
É verdadeiro e intenso, mas também sútil e poético. Eu poderia assistir de novo, e de novo, e de novo. O bom é que fica em cartaz no Tuca, teatro que adoro, por mais um mês.
Se Deus Me Chamar Não Vou 📖
Se não bastasse ter assistido a minha peça favorita do ano, essa semana também tive a sorte de ler o livro que subiu meteoricamente para os Top 5 da minha vida inteira. Eu sei que sou intensa e exagerada, mas quanto mais eu penso nele, mais eu gosto.
Comprei Se Deus me chamar não vou no início da semana, e menos de 24 horas depois já tinha terminado. A obra de Mariana Carrara Salomão, uma espécie de diário de uma pré-adolescente de 11 anos, é absolutamente brilhante.
Fiquei tão fascinada pela autora, que logo depois de terminar o livro fui pesquisar tudo sobre ela. Mariana é advogada formada pela USP, e atua há anos como Defensora Pública. Neste episódio do podcast Daria um Livro, descobri que a sua maior inspiração literária é a Lygia Fagundes Telles, e que o livro que ela gostaria de ter escrito é Os Meus Sentimentos, de Dulce Maria Cardoso (Se Deus me chamar não vou virou o meu). No episódio, ela também recomendou os filmes Close, que estreou no ano passado, e Eu, Você e Todos Nós de Miranda July, diretora do excepcional Kajillionaire.
A forma como ela escreve — tanto do ponto de vista da escrita, quanto do seu olhar sensível — é genial. Obrigada parceiras do Substack pelo presente que foi essa recomendação.

Feriae 🍽
No final de semana passado, fui conhecer o novíssimo Feriae. Localizado no meio do buxixo do Baixo Pinheiros, o restaurante vem com a proposta do aproveitamento total dos ingredientes, cujas estrelas são os vegetais orgânicos.
O menu começa com petiscos, como as Empanadas de kimchi e a Foccacia com beringela confitada e abobrinha, e vai crescendo até chegar nos pratos principais. Os meus favoritos foram os que estavam na categoria intermediária, chamada de “Meio da Mesa”, entre eles a Pupunha na brasa com purê de Castanha-de-Caju, o Shitake Carbonara, o Escabeche de Mexilhões, e o Alho Poró com Romesco. Todos estavam ótimos.

Em seguida, pedimos o peixe do dia que veio acompanhado de uma deliciosa batata doce, e uma carne de porco. Adorei que o Feriae não serve carnes de boi e cordeiro, e nem frutos do mar como salmão, atum, camarão e polvo. Aliás, a preocupação deles com sustentabilidade não para na comida; todos os produtos de limpeza são biodegradáveis, e o uso de plástico é mínimo. De acordo com este artigo, "os sócios têm como objetivo provar que é possível unir consumo consciente, sustentabilidade e sabor, sem abrir mão do prazer de se reunir ao redor da mesa.” Mais minha cara impossível.
Agenda da NAZA 🚀
Um presente pode ser de graça, como a recomendação de um bom livro, e pode custar caro, como a minha nova mala. A Agenda da NAZA custa R$ 22 por mês, ou R$ 222 por ano, e me contaram que ela pode ser um bom presente para você dar para alguém especial.
Sabia que o Substack já tem até essa função? É só clicar aqui embaixo.
Texto: Paula Nazarian
Colaboração: Manoela Gelpi
Eu levo muito a sério a tarefa de presentear haha mas confesso que as vezes também acabo não dando nada por não ter achado o presente ideal. No meu caso, o ideal é sempre algo que me lembre da pessoa, algo que faça sentido de acordo com o que ela é/faz/expressa na minha opinião. Outra coisa que eu gosto de fazer é presentear com comida que eu mesma preparo pq essa é, definitivamente, a minha linguagem do amor favorita.
Eu adoro dar livros de presente, principalmente para crianças. Meus filhos nunca ganham livros de aniversário e sempre reparo que nas festinhas infantis os livros não ocupam a torre de presentes.
Pode anotar na sua lista mais um livro escrito pela Mariana: “É sempre a hora da nossa morte amém”. Li recentemente e adorei!