Na minha última leitura de mapa astral, a astróloga falou: o presente mais certeiro no momento do seu nascimento teria sido um passaporte; nunca vi alguém tão “do mundo”! Por um misto de sorte, privilégio, escolhas e determinação, tenho conseguido deixar os astros felizes, e viajar bastante. E, como tudo na vida, quanto mais viajo, mais aprendo a viajar.
Se em algum momento pensei que as melhores viagens seriam aquelas em que eu voltaria com todos os itens da lista ticados, hoje sei que minhas jornadas favoritas não envolvem checklists. Algumas podem até ter roteiros, mas os melhores momentos são quando fujo deles. Aprendi que é menos sobre destinos badalados, e mais sobre lugares que ainda conseguem preservar suas raízes. Armênia, Geórgia, Colômbia, Guatemala, Belize, Patagônia e Pantelleria foram alguns que conheci recentemente.
Semana passada visitei o Atacama. O auspicioso deserto no norte do Chile estava na minha lista de desejos há anos, mas diferentemente do Japão — que sonho em explorar por razões concretas como arquitetura, gastronomia e o submundo japonês — eu não tinha um motivo específico para querer percorrer a região. Claro que ao longo da vida me encantei pelas fotos da paisagem lunar e pelas histórias acerca do céu atacamenho, mas a vontade de conhecer o deserto vinha de outro lugar; era como se a minha intuição dissesse que eu precisava ir para lá.
Demorei anos para obedecer a minha alma, mas finalmente o fiz. Decidi de última hora embarcar sozinha para esse outro planeta, para compreender o que provavelmente é a lição mais importante que já aprendi em uma viagem; são pessoas, e não lugares, que proporcionam as melhores jornadas. Cristobal, Victor, Daniel, Juan Ignacio, Brian, Stephanie, Jucélia, Kim e Don Ronald são algumas das pessoas do deserto, que transformaram uma linda viagem em uma experiência que levarei para o resto da vida. Gracias!
Com amor,
Paula
Atacama 🏜
Pousei em Calama em uma terça-feira à tarde, depois de uma rápida escala em Santiago. Aliás, a viagem começou no próprio voo de São Paulo para a capital chilena; vejam que linda a vista da cordilheira dos Andes!
Já no aeroporto me encontrei com o Cristobal, guia do hotel Awasi, com quem passei os próximos dias. Ele me recebeu com um sorriso de orelha a orelha dizendo: prepare-se para dias inesquecíveis, você está indo para um dos lugares mais mágicos e místicos do mundo.
Fomos direto para o hotel, onde fui recebida melhor do que em minha própria casa pelas gerentes brasileiras Jucélia e Kim, que coincidentemente é filha da querida professora de yoga Kathy Lobos!
Existem alguns hotéis bons em San Pedro de Atacama, mas acho impossível algum bater o Awasi; com apenas 12 quartos e um staff de 84 pessoas (!!!), esse Relais & Châteaux está entre os hotéis mais charmosos e acolhedores em que já me hospedei. E, além do mais, os três lodges do Awasi — Atacama, Patagônia e Iguazú — são carbon neutral. Demais!

Depois da conversa com os guias, fiz uma massagem para descansar da viagem, tomei banho e jantei no hotel. Aliás, fiz todas as refeições por lá; a comida era tão boa, que não tive vontade de sair e explorar outros restaurantes.

O dia seguinte começou com uma caminhada pelo Vale da Lua. Na verdade, não fomos exatamente para o Vale da Lua, e sim para o adjacente Vallecito, por recomendação do Cristobal (ele disse que esse segundo é igualmente bonito, mas muito menos turístico). De fato, éramos só nós dois caminhado pelas dunas. Ali foi o primeiro momento em que senti a força do deserto.
À tarde, fomos conhecer Toconao, pequeno vilarejo bucólico que parece ter parado no tempo. Foi muito interessante ver árvores de romã, limoeiros e laranjeiras florescendo nos jardins da cidade, um oásis no meio do deserto. Foi também a primeira vez que vi madeira proveniente de cactos; linda!
Em seguida, fomos visitar a reserva de flamingos, e terminamos o dia assistindo um dos pores do sol mais bonitos que já vi. Acompanhados de chá, frutas e queijos locais, assistimos o céu mudar de cor mil vezes, enquanto conversávamos a respeito das lendas que cercam os vulcões da região.
No dia seguinte, acordamos cedo para ver os gêiseres em erupção. Se alguém tivesse dito naquele momento que estávamos em marte, eu teria acreditado! Adorei observar o fenômeno das nascentes termais, principalmente enquanto comia meus ovos mexidos, preparados com muito carinho pelo time do hotel.
Depois do café da manhã delicioso, saímos a pé para explorar o vale. Uma das coisas que mais me impressionou foi ver que o Cristobal rapidamente me sacou, adaptando os planos para me atender ainda melhor. Em outras palavras, ele percebeu que sou fanática por trilhas, então começou a inseri-las nos nossos passeios. Caminhar em silêncio por entre alpacas, vicunhas, guanacos e viscachas foi inesquecível.

Depois do almoço, aproveitei para conhecer a cidadezinha de San Pedro de Atacama. Me impressionou como uma vila tão pequena, pode ser tão animada! Para fechar o dia com chave de ouro, ainda fui para um observatório no meio do deserto para ver as estrelas. Dei sorte; julho é considerado o melhor mês para observar o céu no Atacama! Me senti minúscula olhando para a nossa via láctea…
O último dia no deserto começou com um passeio que me foi fortemente recomendado; andar a cavalo pelo Vale de Marte. Saímos eu, Cristobal e “Don Ronald”, o figura que cuida dos cavalos, para uma cavalgada em meio as dunas de areia. Foi maravilhoso, e deixou com vontade de quero mais!
Já a caminho do aeroporto paramos no Vale do Arco-Íris, que leva esse nome pela variedade de cores das pedras que o compõem. Fiquei tão fascinada que saí com os bolsos carregados de cristais, em uma tentativa de levar um pouquinho da mágica do deserto para casa comigo.
Clos Apalta 🍷
Depois de dias tão estimulantes, voei para Santiago com o objetivo de fazer o que mais tenho dificuldade, mas que me é tão necessário: descansar. Passei duas noites sendo paparicada na vinícola Clos Apalta, Relais & Châteaux pertencente a família Lapostolle, criadores do licor Grand Marnier. A vinícola fica no Vale de Colchagua, a duas horas e meia da capital, em uma das regiões mais importantes de vinhos do Chile.

Quem começou a história da família no Chile foi Alexandra Marnier Lapostolle, no início dos anos 1990. A empresa hoje é tocada por seu filho, Charles-Henri de Bournet, que conta como sua mãe foi parar no Chile:
Minha mãe, Alexandra Marnier Lapostolle, sempre sonhou em fazer o vinho perfeito. Ela passou anos em busca de um terroir excepcional, com o objetivo de criar um vinho singular. Isso faz 25 anos. Tendo atravessado diversos continentes, ela encontrou o lugar perfeito no Vale do Apalta. Para que seu sonho virasse realidade, ela ouviu as montanhas e o ar, sentiu o potencial extraordinário do lugar, e então o adestrou. A expertise francesa providenciou ajustes sofisticados para o cenário paradisíaco. Então, nasceu o Clos Apalta, vinho brilhante e complexo, que estimula os sentidos e excita a imaginação.
Comecei meu dia na vinícola fazendo uma pequena trilha para sentir o terreno. Os perfumes que senti no ar fizeram com que eu logo percebesse que estava em um lugar especial. Descobri mais adiante que a vinícola fica em um “micro-clima” denominado “semi-mediterrâneo”, com chuvas no inverno e um longo e seco verão, permitindo que as uvas atinjam a maturidade perfeita. Em termos técnicos, essa oscilação térmica favorece o acúmulo de antocianinas, dando profundidade e riqueza aos vinhos.
Depois da caminhada, voltei ao quarto para trocar de roupa. O quarto — são 10 no total — é na verdade uma casa de 200m2, com direito a piscina privativa olhando para o vinhedo. Voltei para a sede para o café da manhã, onde ovos, geléias caseiras, iogurte feito in loco, sucos frescos e frutas da estação eram alguns dos itens expostos em uma sala muito charmosa.

De barriga cheia, fui dar uma volta na feira da cidade com o Cristhian, chef do hotel. Compramos alguns ingredientes da estação, que usamos para cozinhar o almoço depois. A feira fica em Santa Cruz, a maior cidade da região, com 40,000 habitantes. Aproveitamos para dar uma volta pela praça principal, cuja arquitetura colonial está bem preservada.
O almoço, como todas as refeições no Clos, estava maravilhoso. Começamos com um polvo, seguido por uma corvina servida com risoto de cogumelos, e terminamos com uma sobremesa feita a base de maçã verde. Todos os pratos foram acompanhados por excelentes vinhos, escolhidos a dedo pelo sommelier Dragan. Descobri depois, durante a degustação de vinhos que fizemos a noite, que ele vem dos Balcãs!
Para digerir o banquete, passeei pelas vinhas com o Daniel Larrondo, sub-gerente do hotel. Ele me contou sobre a história do lugar, e me deu uma aula de geografia, explicando como o solo, a água e a topografia são alguns dos fatores determinantes para a produção dos vinhos. Dali saem vinhos que viajam para o mundo inteiro, como o Clos Apalta e Petit Clos, e outros que são exclusivos para a venda local, como a linha Clos du Lican. Tem uma parte da vinícola — de onde vem os vinhos com o rótulo “La Parcelle 8” — onde as vinhas tem mais de 100 anos! Foi uma visita rápida, mas suficiente para eu voltar descansada para São Paulo, com uma caixa de vinhos para matar as saudades!
Agenda da NAZA 🚀
Viajar é bom, mas voltar para casa também é. Estou feliz de estar de volta na minha cidade, que está cada dia mais pulsante! No link abaixo você pode conferir o nosso guia cultural mensal, cheio de dicas para você curtir neste final de semana. Muito obrigada!
Sozinho a gente não vale nada 🫂
No dia 17 de julho, completo 6 meses da minha cirurgia no fêmur. À medida que esse marco se aproxima, tenho me percebido um pouco ansiosa. Terei que fazer alguns exames por conta da data, o que tem me feito questionar: será que está tudo bem? Estou curada?
Adoro “acompanhar” as suas viagens! Amei o Atacama tb.
Estou voltando (ainda no avião) da Islândia. Se não foi ainda, coloca na sua lista. Para você que gosta de trilhas, é imperdível!!! A paisagem é inacreditável de tão linda!!! E pela primeira vez fiz uma viagem de motor home, com a família da minha irmã. Foi inesquecível.
Bj grande e ótima semana.
Que vontade de ir conhecer!