Tem semanas que são mais difíceis do que outras. Acontece alguma coisa diferente do que esperávamos, e de repente estamos dentro de uma espiral, onde parece que tudo está dando errado. Nessas horas, pensamentos do gênero “O que estou fazendo com a minha vida?” podem invadir a nossa mente, deixando tudo um pouco nebuloso.
Fazia tempo que não me sentia assim, mas no início da semana, essas ideias passearam pela minha cabeça. Não acho esses momentos estritamente ruins — acredito que deles nascem questionamentos profundos, que impulsionam mudanças necessárias — mas eles com certeza não são confortáveis.
Nesta segunda-feira, bem quando eu estava toda enroscada na espiral, o universo colocou no meu caminho uma cachoeira. Mergulhar naquelas águas era o oposto do que eu deveria estar fazendo naquele momento, mas foi como as coisas se desenrolaram. Então, entrei bem no meio da queda onde a força da água estava na máxima potência, e ouvi um recado que começou assim: confia, está tudo certo. Saí dali algum tempo depois encharcada de confiança na vida.
Acho engraçado que ainda me surpreendo com o poder de cura da natureza. Não teve uma vez em que não me senti melhor ao olhar para uma flor, um pássaro ou uma árvore…ao fazer uma trilha, mergulhar no mar, ou simplesmente caminhar ao ar livre. Escrevo isso aqui como um lembrete para mim, mas pensando também em quem está tendo um dia difícil. Olhe para a natureza ao seu redor; você vai ver que todas as respostas estão ali.
Com amor,
Paula
Gisela Gueiros 🎨
Já falei aqui que a minha vida é antes e depois dessa newsletter, em todos os sentidos. Fui de ser uma pessoa que nunca teve Instagram, para alguém que expõe suas maiores vulnerabilidades semanalmente. Essa nova forma de ser no mundo me trás muitas coisas, inclusive medos, mas principalmente conexões sinceras com pessoas ao redor do mundo.
Entre as amigas mais especiais que ganhei aqui está a Gisela Gueiros, que admiro muito pela sua forma criativa e sensível de viver a vida. Nem acreditei quando ela topou ser a convidada do próximo NAZA Talks, e me concedeu esta entrevista. Aqui vão os melhores trechos.
Gi, me conta um pouco de você. Onde você nasceu?
Nasci em São Paulo, cidade que amo loucamente e revisito sempre que posso. Moro em Nova York há 17 anos, então morro de saudades de “casa”.
Porque você decidiu morar em NY?
Vim fazer um mestrado em História da Arte e acabei ficando — meu namorado americano virou marido, tive filhos e quando fui ver… passaram-se quase duas décadas. Tenho alma urbana, adoro viver numa cidade com tantos museus e gente de tantas partes do mundo. Poder andar para todo canto me dá muita alegria. Tenho um amigo que diz que quem mora em NY topa um apartamento pequeno porque o Central Park vira o seu quintal. E é por aí mesmo: a cidade é uma extensão da nossa casa. Sorte grande poder dar uma passadinha no Metropolitan Museum semanalmente :)
Quando que a arte entrou na sua vida?
Estudei num colégio espanhol que dava muito espaço para as artes, o Miguel de Cervantes. Tive uma professora marcante, a artista Gersony Silva. Desde muito pequena já ouvia falar de Vélazquez, Goya, Picasso, Miró, Dali…
Também lembro de colecionar livros de arte que vinham junto com a assinatura do jornal. Quando eu tinha uns 9-10 anos, tive de fazer um trabalho para a escola. Cada aluno podia pesquisar um tema e apresentar para a classe. Meu assunto escolhido foi uma pintura que me encanta até hoje, “A Menina em Azul” do Modigliani.
Não consigo muito lembrar de um tempo em que arte “não era parte da minha vida”, e mais tarde fui descobrir que o tio da minha avó foi Antônio Bento (de Araujo Lima), que escreveu livros sobre Portinari e sobre a icônica visita de Édouard Manet ao Brasil, onde ele foi picado por uma cobra e decidiu virar artista!
Quem é a sua maior inspiração nas artes?
Amo a figura da Berta Zuckerlandl, jornalista, crítica cultural e anfitriã dos salons mais famosos de Viena, onde se encontravam Sigmund Freud, Gustav Klimt, Auguste Rodin, Gustav Mahler, Josef Hoffmann, Arthur Schnitzler e Alma Mahler.
Também admiro muito a galerista Paula Cooper, uma pioneira em NYC. No Brasil, Vilma Eid. O trabalho que ela fez com artistas auto-didatas é fenomenal!
Com o que você trabalha?
Você tem meia hora? Hahaha. Além de ser fundadora da galeria nômade Gisela Projects, ofereço visitas guiadas de arte em galerias e museus de NYC há mais de 10 anos. Escrevo a newsletter Gisela’s Hottest Takes aqui no Substack, sou colunista do Valor Econômico, tenho alguns clientes de art advising e, nas horas vagas, faço cerâmica. Sou mãe de gêmeos e "yogini” viciada.
Paula: eu e a Gisela temos isso em comum; fazemos várias coisas ao mesmo tempo. Vamos falar sobre sermos “multi-hífen” e muito mais no próximo NAZA Talks.
Quem é o seu pintor preferido?
A lista é gigante e está sempre mudando, mas vou dizer os que me vieram à cabeça agora: Giotto, Mantegna, Piero della Francesca, Fra Carnevale, Bruegel, Velázquez, Rembrandt, Vermeer, Caspar David Friederich, Manet, Cézanne, Matisse, Morandi, Alice Neel, William H. Johnson, Alex Katz, Kerry James Marshall, Stanley Whitney, Maria Lassnig, Mary Heilmann, Laura Owens, Vija Celmins, Elene Chantladze, Etel Adnan, Amy Sillman, Celia Euvaldo, Ana Prata, Nicole Eisenman. Pensa numa turma boa!
Tem algum movimento artístico especifico que você gosta?
Não tem um movimento específico, mas amo retratos.
Sei que você lê muito. Qual é o seu livro favorito?
Não consegui pensar em um só, e estou deixando vários de fora, mas “Velázquez” do Ortega y Gasset, “Papéis Avulsos” do Machado de Assis, “Yoga” do Emmanuel Carrère, “Soul of a Woman” da Isabel Allende, “If These Apples Should Fall” do T.J. Clark, “The Art of Rivalry” do Sebastian Smee, e qualquer um da Clarice Lispector.
O que te inspira na arte hoje?
As mulheres.
E o que você não gosta?
NFT e arte feita por inteligência artificial. Alô, Rafik Anadol!
Do que você mais sente saudades de São Paulo?
Dos meus amigos da vida toda e família. Do clima. Da comida. Das árvores. Dos museus. De jogar tranca. Dos finais de semana na praia – onde tem sol e calor quase o ano todo. Do Carnaval. Dos médicos que te escutam. De dirigir ouvindo música alta. Da pizza do Camelo. Da tropicalidade. Dos jantares e festas que não têm hora pra acabar. Acho melhor parar a lista aqui para não começar a chorar. Hahaha.
Nova York por Gisela Gueiros 🍎
Aproveitei a oportunidade para pedir para a Gi algumas dicas de Nova York. Essas são as dicas dela para quem está indo pela primeira vez:
Sapatos confortáveis, ande o máximo possível e, de preferência, rápido e pelo lado direito da calçada. Se a distância for longa, use o metrô e evite o trânsito. Capriche no casaco se for inverno. Atravesse a ponte do Brooklyn a pé, dê um jeito de andar de barco – pode ser o ferry até a Estátua da Liberdade ou o passeio de arquitetura que a AIA oferece.
Visite os museus! Metropolitan, MoMA, Whitney, New Museum e os menos óbvios, Frick Collection, Brooklyn Museum, Noguchi, Drawing Center, Folk Art, Jewish Museum, PS1, Neue Galerie, Studio Museum in Harlem, Museo del Barrio… e se estiver no pique, Dia: Beacon e Storm King [em Beacon].
Visite as galerias! Venha fazer meu tour :)
Assista a shows de jazz – tem toda noite! Mezze Rown, Dizzy Coca-Cola, Birdland, Village Vanguard, Smalls…
Se for época de basquete, assista um jogo no Madison Square Garden ou no Barclay’s Center. Se for setembro, tente ver uma partida de tênis do U. S. Open.
Vá fuçar as livrarias. Minha favorita é a McNally Jackson do Soho.
Se conseguir, jante no disputadíssimo Via Carota. No Chelsea Market tem ótimas opções. Meu favorito é o Miznon, bem gostoso para um almoço rápido durante o dia e famoso pela couve-flor grelhada.
Visite os brechós da cidade – Ina, Real Real, What Goes Around Comes Around, Beacon’s Closet…. As lojas de roupas “pre-loved” estão mais recheadas do que nunca – você economiza e o planeta agradece.
E tem também dicas para quem já foi várias vezes:
Organize-se para visitar a Glass House [em New Canaan], a Donald Judd Foundation, veja a programção do BAM [Brooklyn Academy of Music], hospede-se no Brooklyn para uma nova perspectiva. Vá a um karaokê em Chinatown, visite o jardim Wave Hill, explore o bairro de Red Hook – ainda mais se for verão!
NAZA Talks 🎙
Acho que deu para entender que a Gisela é uma mulher e tanto né? Múltipla, colorida, criativa; não vejo a hora de bater um papo com ela! Em parceria com a Pinga, vamos nos encontrar no Pivô, para uma noite que promete. Que tal sair da rotina e fazer algo diferente? Clique aqui para se inscrever!
Corpo-Casa: diálogos entre Carolee Schneemann, Diego Bianchi e Márcia Falcão no Pivô 👩🏻🎨
Se você ainda não está convencido de participar do próximo NAZA Talks, vou te dar mais uma razão: neste dia, você vai poder conhecer ou reconhecer o Pivô, uma associação cultural sem fins lucrativos que atua como plataforma de intercâmbio e experimentação artística.
O Pivô inaugura amanhã a exposição Corpo-Casa no seu espaço no Copan, com obras cedidas pelo Carolee Schneemann Foundation apresentadas junto a trabalhos inéditos dos artistas latino-americanos Diego Bianchi e Márcia Falcão.
Quero maiZ: um dos braços mais pulsantes do Pivô é o seu programa de residência, que é um dos mais reconhecidos do Brasil. Eles já receberam mais de 300 artistas, promovendo a pesquisa e a formação de novos talentos, além de possibilitar um espaço de experimentação e troca entre pessoas de diversas gerações e territórios. O programa é único no país. Para saber mais e apoiar a instituição, clique aqui.
Kiro 🥤
Você já ouviu falar em Kiro? Sou muito fã da marca, e fiquei muito feliz quando eles toparam fazer parte do último NAZA Talks. O Kiro é o primeiro switchel (bebida a base de água, gengibre, vinagre de maçã e suco de cana) do Brasil. É bem saudável - tem pouquissimos ingredientes, todos super clean - e é uma delícia. Ainda descobri que tem benefícios anti-inflamatórios, antioxidantes, prebióticos e termogênicos. Tomo sempre no lugar de um suco ou refrigerante, ou até de um drink, quando não quero beber álcool. Conseguimos um cupom de desconto para vocês (NAZA15); usem e abusem!
Agenda da NAZA 🚀
Você tem vontade de saber tudo que está rolando de mais legal na cidade? Reunimos todos os programas que estamos de olho na Agenda da NAZA. Você pode acessar clicando no link abaixo. Muito obrigada!
tirando situações de tromba dágua, uma cachoeira nunca não é o lugar em que a gente deve estar :)
puxa quanta informação de qualidade ... gratos