Semana passada, tive a primeira aula da oficina de escrita da qual estou participando na Escrevedeira. Entrei na escola já sorrindo ao ler frases como “I Work To Support My Reading Addiction”1 estampadas na parede, e ver tantos livros nas estantes. Quando olhei para os lados e vi meus colegas de classe, sabia que estava no lugar certo; eram todos nerdíssimos como eu. Me senti na Convenção das Bruxas de Roald Dahl, com a diferença de que no nosso encontro tinham cadernos ao invés de perucas.
O curso, ministrado pela Noemi Jaffe, é o meu primeiro flerte com a escrita de uma forma mais estruturada. Só percebi na hora de me apresentar que eu nunca tinha olhado para a escrita como algo separado de mim. A síndrome da impostora bateu, principalmente quando entendi que quase todo mundo ali já publicou ao menos um romance, mas foi de leve. Devo isso a humildade e ao acolhimento da Noemi, e a terapia. Amém.
Ao final, percebi que estava me sentindo viva e vista, como experienciei poucas vezes na vida. Ainda não sei no que o curso vai dar, mas sinto que é só o começo de uma nova e longa estrada.
Com amor,
Paula
Dra. Jane Goodall no Unibes Cultural 🐒
Foi um privilégio imenso estar na mesma sala que a primatologista, etóloga e antropóloga Dra. Jane Goodall. Em um evento gratuito organizando pelo Unibes Cultural, a cientista falou sobre a sua trajetória, desde a infância nos subúrbios ingleses, até a África, onde ela passou boa parte de sua vida estudando chimpanzés.
Me tocou ouvir ela falar sobre a mãe, que sempre incentivou a paixão que a jovem Jane nutria pelos animais. Escutar ela contar sobre algumas experiências que ela teve com os primatas foi também muito especial.
De acordo com a Dra. Goodall, a resiliência da natureza, aliada ao espírito indomável de alguns seres humanos corajosos, são o que podem garantir o futuro do nosso planeta. Foi reconfortante ouvir a sua visão durante um momento tão difícil da nossa história; saí com um pouco mais de esperança para a humanidade. Para quem quiser assistir a palestra, ela está disponível neste link.
Quero maiZ: se você quiser conhecer melhor o trabalho da Dra. Goodall, recomendo ouvir esta entrevista que ela deu para o podcast do Tim Ferriss, e assistir este documentário que está no Disney+.
Pequenas Áfricas: o Rio que o samba inventou no Instituto Moreira Salles 🥁
A exposição Pequenas Áfricas: o Rio que o samba inventou, que acabou de abrir no Instituto Moreira Salles, dialoga bem com o discurso da Dra. Goodall. Ela também fala da importância de preservarmos algo cujo valor é inestimável. Neste caso, o objeto em questão é o samba.
Ocupando dois andares do instituto na Paulista, a mostra reconstitui a cena cultural que, entre os anos 1910 e 1940, produziu e consolidou o samba urbano que ficou conhecido no Brasil e no mundo. Para contar essa história, a mostra apresenta telas de Heitor dos Prazeres, fotos de Walter Firmo, relíquias de ícones como Pixinguinha, recortes de jornais da época quando os Batutas foram a França (1922!), e centenas de outros trabalhos relacionados a cultura do samba. A exposição mostra como a complexa rede de solidariedade, espiritualidade e música formada naquele momento se espraia pela produção contemporânea, das escolas de samba e dos blocos, dos terreiros e dos quintais. Adorei o olhar carinhoso, poético e elegante para algo que é tão intrínseco a nossa cultura, mas nem sempre recebe o devido prestígio.
Ensaios para o Museu das Origens no Instituto Tomie Ohtake 🎨
A mostra Ensaios para o Museu das Origens, que está em cartaz simultaneamente no Instituto Tomie Ohtake e no Itaú Cultural, poderia ser uma extensão de Pequenas Áfricas. Entre outras sinergias, ambas falam do Cais do Valongo, e expõem trabalhos feitos com restos do local.
Inspirada em uma ideia do crítico Mario Pedrosa para a reconstrução do MAM-Rio, depois dele ter sido atingido por um incêndio em 1978, a tese proposta é a de que o papel do museu deveria ser repensado, reunindo ali os museus de Arte Moderna; do Índio e do Inconsciente, que já existiam, e os museus do Negro e das Artes Populares, a serem criados.
A ideia de Pedrosa foi adaptada para os dias de hoje, de forma que a mostra abriga mais de mil peças, apresentadas em mais de 20 núcleos como Museu do Homem do Nordeste e Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana. Gostei muito de ver uma parte dedicada ao Parque Nacional da Serra da Capivara, que é um dos lugares que mais gostei de conhecer. Os trabalhos da Mira Schendel e do Fernando Diniz, na ala do Museu de Imagens do Inconsciente, também me encantaram. Agora quero ir no Itaú Cultural para ver a continuação da exposição, que fica em cartaz em ambas as instituições até o dia 28 de janeiro.
Quero maiZ: no mesmo Instituto Tomie Ohtake está a exposição de fotos do japonês Hiromi Nagakura, que resenhamos na última Agenda da NAZA. A mostra apresenta fotos que ele fez durante as suas diversas viagens pela Amazônia com o Ailton Krenak. Os trabalhos são lindos, e me deixaram morrendo de vontade de voltar para a floresta e fazer uma imersão com as diferentes comunidades.
Sororoca Bar 🐟
Há poucos metros do Tomie Ohtake está o Sororoca, bar dedicado a pescados e frutos do mar, com sotaque paraense. Estava louca para conhecer o espaço, que é criação dos chefs Thiago Castanho (Remanso do Peixe), Gustavo Rodrigues (Lobozó) e Marcelo Corrêa Bastos (Jiquitaia e Lobozó).
Pedimos quase todos os pratos do cardápio, o que foi ótimo para provar as diferentes iguarias do mar. O destaque foi para o Filhote na brasa, que estava tão bom quanto o que comi recentemente no restaurante da família Castanho em Belém. As ostras e o escabeche de mexilhão, servido em cima de um pãozinho com aioli, também estavam uma delícia. Esperava mais do ceviche de linguado e do atum selado na brasa, mas talvez estou sendo exigente demais. A verdade é que o Sororoca é super agradável, e fomos muito bem atendidos. Voltarei.
47ª Mostra Internacional de Cinema 🎥
Para a minha enorme tristeza, a Mostra acabou. Já estou na contagem regressiva para a edição do ano que vem. Para quem perdeu, alguns filmes seguirão em cartaz até o dia 8, na programação da repescagem.
Entre os filmes que assisti, o meu favorito foi Maestro (estreia dia 7.12 nos cinemas brasileiros e dia 20.12 no Netflix), filme de Bradley Cooper que conta a história do relacionamento do maestro Leonard Bernstein com a sua mulher Felicia Montealegre. Achei simplesmente maravilhoso. Tenho uma visão um tanto particular sobre relacionamentos, que foge um pouco dos padrões pré-estabelecidos, portanto entendi e adorei a relação da dupla (o maestro é gay e ama a sua mulher simultaneamente). Achei o roteiro ótimo, por ele conseguir retratar o amor do casal de uma forma real e sensível, sem fazer grandes julgamentos.
No meu ranking, o segundo lugar foi para o francês Anatomia de uma Queda (estreia no Brasil em fevereiro), que mencionei aqui. Depois, vieram dois finlandeses: o seco porém simpático Folhas de Outono(estreia dia 30 deste mês), e o filosófico Palimpsesto. Esse último conta a história de dois idosos que são selecionados para participar de uma pesquisa médica de rejuvenescimento. Ao encarar este fato como uma oportunidade de segunda chance na vida, eles são surpreendidos com as memórias do passado, e percebem que o processo de rejuvenescer pode ser uma experiência bastante dolorosa e complexa. O tema é original e me fez refletir.
Na ala dos documentários, gostei de Anselm, longa dirigido por Wim Wenders sobre o trabalho do artista plástico Anselm Kiefer. O documentarista acompanhou Kiefer durante dois anos para fazer o filme, que foi gravado em 6K, e é exibido nas telonas em 3D. Senti falta de um pouco mais de história, mas entendi que a ideia do filme é ser uma experiência imersiva na obra do artista.
Uma boa surpresa foi La Chimera, novo longa da diretora italiana Alice Rohrwacher, que conta com a participação da atriz brasileira Carol Duarte (ela está ótima interpretando Itália). Os filmes que menos gostei foram O Ano do Tigre, filme dominicano engraçadinho, e o japonês O Mal Não Existe, que saí sem entender muito rsrs.
Agenda da NAZA 📆
Para me recuperar do fim da Mostra, vou usar a nossa Agenda da NAZA, para planejar novos programas na cidade durante o mês de novembro. O guia esta disponível no link abaixo para os nossos apoiadores.
NAZA na Mídia 📰
Por fim, deixo aqui o link para a última edição da revista Carbono, que me convidou para escrever algumas páginas sobre a minhas aventuras pelo Cáucaso. Foi delicioso relembrar as memórias de uma viagem que me levou de volta às minhas origens na Armênia, e me apresentou a um novo mundo na Geórgia.
“Trabalho para sustentar o meu vício em leitura”.
Noemi <3