Lembro bem de quando entrei na Escrevedeira pela primeira vez. Foi em outubro do ano passado, e fui até lá para participar de uma oficina com a escritora e fundadora da escola, Noemi Jaffe. Até escrevi sobre essa primeira aula aqui, na edição Convenção dos Nerds.
O que me levou a querer voltar a estudar era uma sensação de que a minha escrita não acompanhava mais as minhas ideias, principalmente no sentido técnico, da gramática mesmo. Estava cansada de ter que sempre pesquisar se o certo é “em vez” ou “invés”, e cometer erros o tempo todo.
Entrei na escola — uma casinha charmosa em um canto simpático da cidade — e me senti muito acolhida; era como se eu tivesse entrado em um lugar que já conhecia. No entanto, quando os outros alunos começaram a se apresentar, fiquei bem intimidada; muitos eram escritores, com livros já publicados.
Eis que a aula foi rolando, e fui me sentindo cada vez mais à vontade. A forma como a Noemi conduziu a classe fez com que eu deixasse de me sentir a pessoa mais burra da sala, criando até coragem para levantar a mão e fazer perguntas (provavelmente óbvias para os demais, mas importantes para mim). Desde aquele dia, nunca mais saí da Escrevedeira; continuei a oficina com a Noemi, e fiz outras com autores como Antonio Prata e Andréa Del Fuego.
Passados alguns meses, entendi que o que eu precisava de uma aula de escrita não era aprender quando se usa “esse” ou “este”; essas dúvidas vão continuar comigo, e já aceitei que as falhas fazem parte do meu charme rsrs (até porque, aprendemos na última aula que a literatura permite questionar e brincar com as regras gramaticais. Lemos um trecho do discurso da Annie Ernaux no Prêmio Nobel, que diz: Como se questionar sobre a vida sem se questionar também sobre a escrita? Sem se perguntar se esta reforça ou perturba as representações aceitas, interiorizadas, sobre os seres e as coisas?). O que eu precisava era dar vazão para a minha criatividade, em um lugar que permitisse isso.
Com amor,
Paula
Noemi Jaffe 📝
Se você me dissesse há pouco tempo que eu teria a oportunidade de entrevistar a Noemi para esta newsletter, eu teria dificuldade em acreditar. E, se me falassem que ela seria a convidada da segunda edição do NAZA Talks, seria quase impossível de conceber. Eis que…aqui estamos. Sempre fico maravilhada com o quanto a vida pode nos surpreender, quando estamos abertos a isso.
Noemi, você é brasileira?
Sou brasileira, de São Paulo.
Como você descreveria o seu trabalho para alguém que não te conhece?
Sou professora de literatura brasileira e escrita ficcional há cerca de quarenta anos e escritora profissional há cerca de 20 anos, quando publiquei meu primeiro livro. Passo o dia lendo, escrevendo, corrigindo e criando exercícios. Também coordeno a Escrevedeira, escola de cursos livres de literatura e escrita.
O que é a Escrevedeira? Como ela nasceu?
A Escrevedeira é um centro de atividades relacionadas à literatura e escrita. Em geral, oferecemos cursos e oficinas, de diferentes durações, para o público interessado, sem compromisso oficial, apenas a formação cultural. No caso de quem deseja se tornar escritor, também oferecemos formação profissional. Todo mês, oferecemos cerca de 14 atividades diferentes, algumas presenciais – numa casa aconchegante na Vila Madalena – e a maioria online.
Qual é o curso mais legal da escola?
Todos!
Paula: tenho vontade de fazer absolutamente todos os cursos da Escrevedeira. Os professores são excelentes, e os alunos super interessantes; já conheci gente do Brasil inteiro, de todas as idades. Estou de olho neste curso com o Jeferson Tenório, e fiquei com vontade de participar deste clube de leitura, que irá discutir o livro As Pequenas Chances de Natalia Timerman. Vale a pena dar uma olhada no site deles; tem muitos cursos legais, para todos os interesses.
A Escrevedeira fica em uma parte muito charmosa da cidade. Tem algum lugar especial que você recomenda no entorno?
Sim! Temos 3 padarias bem gostosas e próximas (Pioneira, Leticia e Tu és Pão) e a maravilhosa A Padeira, que tem o melhor croissant de São Paulo. A 100 metros da nossa casa, temos o Museu da Pessoa.
Paula: os cursos na Escrevedeira tem me feito explorar mais a Vila Madalena, e descobrir os seus incontáveis restaurantes, cafés e padarias. Tem muita coisa legal no entorno da escola…
Você acha que a escrita é para todo mundo?
Acho que a escrita é para qualquer pessoa que realmente queira escrever. Assim como com qualquer outro aprendizado - de música, desenho, esportes – também a escrita literária exige aprendizado de técnicas, disciplina e constância. Dessa forma, qualquer pessoa pode aprimorar sua escrita, sem necessariamente se tornar um escritor.
Qual é a sua palavra favorita?
Tenho diferentes palavras favoritas a cada semana, mais ou menos. Atualmente, gosto da palavra "palavra".
E a sua língua preferida?
Português, claro. É minha língua, a língua dos livros que amo.
Qual livro você recomenda para quem já leu tudo? E para quem não leu nada?
Para quem já leu tudo, recomendo reler "Grande Sertão: Veredas" sempre. E para quem não leu nada, recomendo "Contos Novos", do Mário de Andrade.
NAZA Talks 🎙
Durante muitos anos, repeti para quem quisesse ouvir que eu não era uma pessoa criativa. Eu tinha convicção disso. Sempre dizia; Como é possível alguém que não sabe nem desenhar um homem palito, ser criativo?
Graças a Deus, e a muito trabalho de autoconhecimento, descobri que sou, e muito, criativa. Até porque, hoje acredito que todos nós somos; o problema é que nem sempre somos incentivados a colocar isso para fora. A criar apenas por criar, e não para produzir algo (eu, por exemplo, adoro escrever, mas até hoje nunca tive vontade de escrever um livro. Gosto das oficinas de escrita como uma terapia, como deve ser uma aula de cerâmica).
Pensando nisso, o próximo NAZA Talks será uma conversa em torno da criatividade, e de como a escrita pode ser uma ferramenta mágica para despertar isso em cada um de nós. Vou adorar ter você com a gente, nesse dia tão especial. Vamos nessa? Você pode se inscrever clicando neste link.
Advânio Lessa na Gomide & Co 🧑🏾🎨
Por falar em roda de conversa, sábado passado participei de uma na galeria Gomide & Co. O papo foi entre o artista mineiro Advânio Lessa, Gleyce Kelly Heitor (Diretora de Educação do Instituto Inhotim), Valquíria Prates (curadora do Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto) e João Adrien (Head de ESG Agro do banco Itaú-BBA).
Fiquei muito feliz de ver pessoas que trabalham em diferentes áreas reunidas acerca de um tema; a nossa coexistência com a natureza. Na minha visão de mundo, não faz muito sentido compartimentar assuntos como arte, agricultura, educação e sustentabilidade; eles existem sincronicamente.
Não conhecia o Advânio, e fiquei encantada com o seu trabalho e filosofia de vida. Adorei que ele terminou a sua fala remarcando como cada pessoa que estava ali pode atuar como um agente multiplicador; não precisamos esperar políticas públicas para transformar. É possível conhecer melhor o trabalho de Lessa através deste pequeno documentário, e da exposição Redemoinho não leva Peão, que seguirá em cartaz na galeria Gomide & Co até o início de maio.
Giro de Restaurantes 🍽
Nos últimos dias, fui conhecer alguns restaurantes novos. Gostei desses aqui:
Refúgio: tive uma ótima surpresa ao entrar no Refúgio e dar de cara com um forno a lenha, em pleno Jardins. A cozinha é comandada pela chef Carol Albuquerque, que já foi do Chez Claude, do Maní e do Taraz. Pedi o peixe do dia, a prejereba, com uma deliciosa Abóbora Cabotiá. Ambos foram feitos na brasa. Achei a acústica um pouco ruim, mas o ótimo atendimento compensou o barulho. É uma boa opção para um almoço durante a semana nos Jardins.
Carrito Organic: aproveitei que estou fazendo uma limpeza ayurvédica para conhecer o Carrito Organic, restaurante de comida plant-based, também no Jardins. O restaurante ficou mais conhecido no ano passado, quando ganhou o prêmio de Melhor Restaurante Vegetariano/Vegano de São Paulo pela Veja Comer & Beber, mas ele existe desde 2016. O Carrito nasceu em um carrinho de madeira que circulava por eventos e feiras. Após bastante sucesso, ganhou um espaço fixo em 2019. Criado pela chef autodidata Cami Borba, o Carrito tem um toque mexicano (ele é conhecido pelos nachos e tacos), mas o menu é bem variado e extenso, com opções para brunch, almoço e jantar. Fui no almoço, e fiquei com vontade de voltar para provar as delícias servidas no café da manhã.
Tappo: já contei aqui que tenho o péssimo hábito de querer conhecer um restaurante logo na semana de abertura. Essa mania é ruim porque nos primeiros dias, o espaço ainda está em fase de testes e ajustes, o que muitas vezes compromete a experiência. Mas a minha curiosidade fala mais alto, e sempre acabo repetindo o mesmo erro... Quando vi que o Tappo tinha reaberto em Higienópolis, no térreo do Edifício Paquita (onde antes era o também italiano MoDi), fui correndo conhecer. No geral, a experiência foi boa; o novo Tappo pode até estar em soft-opening, mas a experiência do Benny Novak é nítida, principalmente no que diz respeito ao serviço (tivemos um problema com um prato, e o assunto foi prontamente resolvido pelo garçom, da melhor forma possível). Gostei do clima — bom para dates — e fiquei com vontade de voltar daqui alguns meses.
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Meu primeiro date com o Luiz foi no Tappo original - que bom que o clima continua o mesmo! ❤️
Queria demais participar desse dia.