Não me considero flexível por natureza. Adaptável sim, mas elástica não.
Aonde quer que eu esteja, farei os meus exercícios de corrida, mesmo as condições não sendo favoráveis. Já corri na estrada na Armênia sendo quase engolida pelos caminhões iranianos, no asfalto derretido da Sicília, com uma escolta em uma região perigosa da Colômbia, entre muitas outras aventuras. Uma pessoa mais flexível certamente teria trocado os treinos por outras atividades, reservando a corrida para lugares mais apropriados.
Outro bom exemplo de rigidez — a lista é longa — diz respeito à alimentação. Quantas vezes não ocupei a mala de viagem com muitos quilos de guloseimas, para não ter que consumir o que não queria.
Assim, fiquei surpresa quando me vi decidindo o réveillon faltando poucos dias para o 31. Aceitei um convite, sem saber direito para onde estava indo, e fui.
Comprei a passagem no próprio aeroporto, e embarquei duas horas depois. Saí do banco do motorista, que me é tão familiar, e fui direto para o assento das crianças. Nem passei pela cadeira do copiloto. E não é que gostei?
Ao ser mais flexível, me deixei ser levada, e recebi muito cuidado. Conheci um novo jeito de estar no mundo, e fiz descobertas importantes, como a de que uma boa maionese combina com quase tudo. Delícia!
Com amor,
Paula
Cem Anos de Solidão 📺
Pensei muito antes de assistir a série Cem Anos de Solidão; o livro é o meu favorito, e eu sabia que Gabriel García Márquez era contra adaptar sua obra para as telas. Mas, começar o ano na Colômbia me deixou com vontade de ver os episódios, e esta matéria me convenceu de que a Netflix se empenhou para fazer algo a altura de Gabo.
Confirmei que a história foi contada com o tempo que ela merece, os cenários foram muito bem construídos, e o realismo mágico é retratado de maneira poética e não caricata. Apreciei o fato de ser em espanhol, e da produção ser colombiana (foi a maior série feita no país!).
Já estou animada para a segunda temporada, que irá retratar Macondo e os Buendias no século seguinte (XX). Arrisco dizer que até o Gabo não odiaria…
Quero maiZ: terminando a série, li Ninguém Escreve ao Coronel, um dos primeiros contos de García Márquez. Ele escreveu a obra aos 29 anos enquanto morava em Paris, trabalhando como correspondente de um jornal colombiano. Era 1957, e Gabo se sentia deprimido ao ver a grave situação financeira de sua Colômbia natal. O autor considera o livro seu melhor trabalho, e teria dito que escreveu Cem Anos de Solidão apenas para que as pessoas lessem a história do coronel. Recomendo tanto para quem quer entrar no universo de Gabo e ainda não teve coragem, quanto para os que adoram seus livros mais celebrados.
Pequenas Coisas Como Estas 📖
As férias off-line foram ótimas para me dedicar aos livros. Comecei com Pequenas coisas como estas, da escritora irlandesa Claire Keegan.
Finalista do Booker Prize em 2022, e considerado um dos melhores livros do século XXI pelo The New York Times, o livro conta a história de um comerciante de carvão em 1985 na Irlanda. É véspera de Natal quando Bill Furlong faz uma descoberta perturbadora sobre um convento local, e as jovens mulheres que ali vivem. De acordo com o NY Times, “nenhuma palavra é desperdiçada na pequena e polida joia de romance de Keegan, uma espécie de miniatura dickensiana centrada no filho de uma mãe solteira que cresceu e se tornou um respeitável comerciante de carvão e madeira com uma família própria na Irlanda de 1985. Moralmente, porém, poderia muito bem ser a Idade Média enquanto ele se depara com os crimes contínuos da Igreja Católica e as tragédias cotidianas causadas pela repressão, medo e hipocrisia grosseira.”
Gostei muito do livro, como também adorei o filme A Menina Silenciosa, baseado em outro trabalho de Keegan, o conto Foster. Ambos exploram temas como solidão, a vida rural e as complexidades humanas e a coragem para agir diante de injustiças. É muito bonita a forma como a autora consegue comover tanto, fazendo recortes tão breves da vida.
Quero maiZ: Pequenas coisas como estas foi adaptado para o cinema, dirigido pelo belga Tim Mielants. Quem está no papel principal é o ator irlandês Cillian Murphy. Estreia em março no Brasil.
Teoria Geral do Esquecimento 📕
Da Irlanda, viajei para Luanda com Teoria Geral do Esquecimento de Agualusa. O romance de 2012, finalista do Man Booker International em 2016 e vencedor do International Dublin Literary Award em 2017, foi o primeiro que li do autor angolano.
Baseado em uma história real, é centrado na vida da portuguesa Ludovica Fernandes Mano, e começa pouco antes da independência angolana. A sinopse é a seguinte:
Luanda, 1975. A fascinante Ludovica, ou Ludo, criada por José Eduardo Agualusa neste livro, ergue uma parede separando seu apartamento do resto do edifício onde vive - e assim nos guia por uma narrativa em que o sentido de humor serve como antídoto à trágica história angolana. Considerado um dos melhores romances já escritos pelo autor, Teoria Geral do Esquecimento é um livro sobre o medo do outro, o absurdo do racismo, o amor e nossa capacidade de redenção.
Devorei o livro em um dia; a trama e seus entrelaçamentos é extremamente cativante, além de ser um ótimo jeito de conhecer melhor o passado de Angola.
Babygirl 🍿
Babygirl é um filme estranho. Até agora não sei se achei o enredo muito fraco, ou se é tanta inversão de papel, que deu um nó na minha cabeça… É provável que seja um pouco das duas coisas.
O longa, em cartaz nos cinemas, trata de um affair entre a CEO de uma grande empresa de tecnologia (Nicole Kidman), e seu estagiário bem mais novo (Harris Dickinson). O papel rendeu a Kidman o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza.
Concordo que sua atuação é boa, mas a de seu par, o jovem Dickinson, é ótima. Antonio Banderas, que interpreta o marido da protagonista, até sumiu no filme…e aí, o que vocês acharam?
Agenda da NAZA 🚀
Considero janeiro um ótimo mês em São Paulo; a cidade fica mais vazia, fluida e o ar mais leve. Que tal aproveitar a calmaria para ir em uma exposição ou no cinema, ou pegar o embalo do início de ano para começar um curso novo? No nosso guia cultural, temos várias sugestões de programas para este começo de 2025. Ele esta disponível no link abaixo, para os nossos queridos apoiadores. Muito obrigada!
Todos Santos ⛪️
Na praça principal de Todos Santos, o teatro é maior do que a igreja. Custei para encontrar a paróquia, mas a casa de espetáculos é impossível não notar; fica bem no meio do quadrado.
suas leituras sejam elas de livros, viagens, da cidade, 'e uma nova maneira de contar, em estoilo crônica, o que outros sites mostram sem graça alguma. bettina.lenci.com.br