Nunca na vida imaginei que veria o meu nome e “maratonista” na mesma frase. O primeiro momento que achei que isso pudesse acontecer foi quando vi uma criança segurando uma placa dizendo Believe, a 10km da linha de chegada da maratona de NY no domingo passado. Até esse momento, foram meses de muita incerteza, e um dos processos de autoconhecimento mais intensos que já vivi.
Comecei a correr há alguns (poucos) anos, de brincadeira. Adorava colocar uma música e sair correndo, muitas vezes com o objetivo de ir de um lugar (ex. casa) a outro (ex. supermercado). Como sempre viajei muito, também era uma forma de conhecer novos destinos. Me divertia enquanto fazia um pouco de exercício e era isso.
Até que um dia, numa viagem com amigas, uma delas me contou sobre a sua experiência com uma "assessoria de corrida". Nunca tinha ouvido falar disso e a ideia de correr em grupo usando abadá me dava pânico. Ela insistiu tanto, que acabei mandando uma mensagem para o seu treinador. Topei fazer o teste de um mês gratuito quando ele me disse que morava na Alemanha e que eu nunca precisaria vê-lo (assim como nunca o vi até hoje).
Passada a primeira semana, lembro de receber uma mensagem dele dizendo que estava muito impressionado com a minha corrida, e que eu poderia correr a maratona de Boston caso quisesse (fui descobrir depois que essa tal de maratona de Boston é bastante cobiçada nesse mundo, pois você precisa ter um índice específico para corrê-la). Provavelmente, ele estava me dizendo aquilo para eu fechar a inscrição, mas foi o que eu precisava ouvir naquele instante; quando nem eu via potencial em mim, ele me fez sentir que eu era capaz.
Daquele dia até o domingo passado, passou-se um ano e meio. Foram infinitos treinos, bastante dedicação e, nos últimos meses próximos à maratona, muitos altos e baixos. Uma verdadeira montanha russa, daquelas cheias de loopings. Na newsletter da semana passada, comentei que essa preparação foi o maior desafio do meu ano; mas acho que foi mais do que isso — foi o maior desafio da minha vida. Correr uma maratona não é sobre a prova em si; é sobre todo o período que antecede esse dia. É o oposto do prazer imediato, como o de comer um doce ou tomar um drink, já que envolve muita renúncia e muita persistência até você ter a recompensa.
Tive muito medo, muita vontade de desistir e me questionei demais. Às tantas, decidi encarar esses medos para entender de onde vinham, o que me levou a um mergulho interno muito profundo. Tive que voltar para a infância e entender de onde vem essa cobrança e esse receio de não ser boa o suficiente. Foi duro e quase desisti, mas atravessar isso foi maravilhoso e libertador. E daí se eu não conseguisse? E daí se eu não fizesse dentro de um tempo específico? Consegui me livrar de uma mala de inseguranças que carregava comigo desde sempre e não sabia.
Quando finalmente consegui deixar tudo isso para trás, voltei para o início. Voltei para quando correr era leve, divertido e gostoso. Arrisco dizer que eu era a pessoa mais feliz correndo aqueles 42.195km. Cantei, dancei, dei high five em todas as crianças que vi e cruzei a linha de chegada no Central Park de braços abertos, agradecendo à vida e a todos que me acompanharam até aqui.
Com amor e toda minha gratidão,
Paula

11.11
Acho que se eu olhar no meu mapa astral, deve ter algo indicando que esta foi uma semana importante para mim: 1 ano de NAZA, a primeira maratona e a NewZ de hoje, falando sobre a maratona, caindo no 11.11 rsrs. Com tudo isso, tirei a semana para ficar um pouco off, mas estou preparando um guia com tudo que tenho visto de legal em NY nesse período. Enquanto ele não sai, temos dois guias da cidade que fiz no ano passado no Insta da NAZA: este de restaurantes e bares e este de programas culturais.
Para a turma de São Paulo, não esqueçam que temos a Agenda com dezenas de dicas legais para novembro:
Passo aqui o espaço para o Oscar que, como tantos de nós, sentiu a passagem da Gal esta semana 🖤
GAL COSTA
Na quarta-feira, com apenas 77 anos, Gal Costa nos deixou.
Gal foi uma cantora absurdamente talentosa, uma intérprete excepcionalmente carismática e uma artista brasileira importantíssima. Ao longo de 40 discos, Gal mostrou uma imensa versatilidade e um amor profundo pela música popular brasileira em todas as suas variedades.
Os meus dois discos preferidos dela mostram essa versatilidade: Domingo, o primeiro dela (e do Caetano), é uma delícia: tranquilo, bonito, mostra a doçura da Gal. Fa-Tal - Gal a Todo Vapor, seu disco ao vivo de 1971, tem essa doçura, mas também mostra a força incrível da cantora e outras das suas qualidades: sua ousadia, seu carisma, sua criatividade, e todo o poder da sua voz.
O melhor artigo que li até agora sobre a Gal foi este da Ruth de Aquino, em que ela destaca e elogia como a cantora baiana sempre chocou a sociedade brasileira com sua ousadia e ao mesmo tempo "sua discrição ferrenha" — mantendo sua vida pessoal entre quatro paredes sem ceder às redes sociais e às demandas de hoje para que exponhamos tudo sobre as nossas vidas.
Também adorei este fio do Gregório Duvivier no Twitter em homenagem à cantora, com uma seleção de links para vídeos de performances da Gal que mostram a sua abrangência.
Quero maiZ: Estou animado para assistir, em março do ano que vem, o filme Meu nome é Gal de Dandara Ferreira. A cineasta trabalhou com a Gal durante dez anos na idealização desse longa, que se passa no final dos anos 1960 no Rio de Janeiro.
CONTEÚDO DEMAIS, E CONTEÚDO INSUFICIENTE
Falando em discrição em tempos de redes sociais e exposição virtual constante…
Quantas vezes você já viu algo interessante, estava sem bateria no celular, e ficou frustrado pelo fato de não poder registrar o momento? Eu sou hater ferrenho de pessoas que gravam vídeos em shows. Penso, "Que tipo de idiota fica com o celular nas mãos, olhando para uma telinha, em vez de dançar e olhar para a banda?" — mas, quando vejo, sou aquele gravando vídeos e pensando em quantos mais vou precisar para conseguir capturar como o show foi bom.
Quanto conteúdo você já separou pra curtir depois, mas nunca voltou pra ver? Ao mesmo tempo, com que frequência você sente que não tem conteúdo que você está a fim de "consumir"? Eu vivo salvando e "favoritando" conteúdo, mas toda vez que sento pra assistir alguma coisa com alguém, ficamos 40 minutos zappeando antes de escolher algo sabidamente medíocre.
Ouvi dois podcasts interessantes esta semana que me fizeram refletir sobre esses dilemas paradoxais. Temos conteúdo demais, e não temos conteúdo suficiente. Quando não capturamos o momento, sentimos que não o vivenciamos; mas quando capturamos o momento, também sentimos que não o vivenciamos, justamente por ter capturado.
O primeiro podcast é uma conversa bem legal sobre como escolhemos, consumimos e avaliamos conteúdo hoje, e como isso tem mudado (por exemplo, em vez de “jornalismo cultural”, hoje temos infinitos indivíduos na internet que criticam cultura como hobby ou profissão).
O segundo podcast foca mais na criação de conteúdo: o que nos leva constantemente a criar conteúdo sobre nossas vidas, e a buscar likes e "audiência", até o ponto de ficarmos exaustos?
Ouvi um depois do outro e achei bem complementares — recomendo. Se você se identifica com os dilemas, concorda ou discorda de algo, vamos continuar esse papo nos comentários!
MY ANALOG JOURNAL
Voltando à música, descobri recentemente um canal que tem me apresentado muita música nova. My Analog Journal toca sets analógicos — ou seja, só com vinil — do mundo todo, desde funk e soul japonês e cantoras turcas dos anos 1970, a ritmos franco-caribenhos, cumbia psicodélica, MPB, samba, samba de coco e batucada, e muito mais. A coleção de discos deles é inacreditável, e eles também convidam outros DJs incríveis para tocarem com eles. Eles têm canais no YouTube e no Soundcloud, além de um Instagram. Estou adorando ouvir enquanto trabalho.
COP27: CONFERÊNCIA DO CLIMA
Confesso que fiquei com um pouco de preguiça de ler sobre a Conferência do Clima das Nações Unidas, que está em curso agora no Egito. Parece que as COPs hoje são só falação. Mas, depois de ouvir uns podcasts sobre o assunto, mudei de ideia.
Apesar de não existirem grandes expectativas com relação aos resultados que devem ser atingidos nessa COP, essas conferências anuais são de extrema importância: com negociadores e chefes de Estado de 198 países reunidos, algum passo multilateral importante em direção ao desenvolvimento sustentável sempre é possível. Além disso, é muito possível que tenhamos notícias de acordos bilaterais entre países, soluções inovadoras do setor privado, ou novas iniciativas de ONGs — como a doação de US$1,4 bilhão pela Fundação Gates para pequenos produtores e agricultores afetados pela mudança climática na África e na Ásia. Para acompanhar, The Economist está fazendo uma ótima série de podcasts cobrindo a COP27 — Recomendo.
Quero maiZ: Falando em podcasts do The Economist, estou adorando a nova série The Prince, sobre o Xi Jinping, que acaba de se eleger para um terceiro mandato como líder da China. Conversando com pessoas de seu passado e com fontes atuais, o podcast conta a história de vida de Xi e as experiências que o moldaram como líder.
Quero maiZ ainda: Estou animado para outro novo podcast do The Economist sobre a China, Drum Tower, que vai tratar de assuntos relativos a política, negócios, tecnologia e cultura no país. Este é o trailer. Como contei aqui, ando bem interessado na China 🤓
U rock!! Parabéns!
👏👏👏
Amiga, parabéns! Fiquei pensando no nosso almoço e muito emocionada pela sua conquista! Sua energia é pura luz - e ao correr, você compartilhou ela com o mundo. Amei sua descrição dos high fives com as crianças. Continue a brilhar e a correr!!!