Sempre gostei de escrever. Gosto de fazer listas de tudo — nomes para cachorros, comidas que lembram a minha infância, hotéis que quero conhecer — e anotar frases aleatórias que ouço. A última foi uma pergunta que a podóloga me fez: "Me conta do seu pé?" Passei a sessão inteira pensando em possíveis respostas.
Mas rascunhos aleatórios no celular são uma coisa — escrever para um público, são outros quinhentos. Quando comecei esta newsletter, eu tinha tanto medo de me expor que nem colocava o meu nome. Preferia me esconder atrás do "Naza". Lembro quando uma pessoa, hoje minha amiga querida, escreveu: "Naza, não sei se você é homem ou mulher, mas estou curtindo o que eu estou lendo." À medida que fui me sentindo mais confiante, comecei a assinar o meu nome, e a contar histórias mais pessoais, como a da minha relação com o Oscar e do meu acidente no começo do ano.
Domingo passado, o meu primeiro artigo para o Brazil Journal foi publicado. Se já era difícil para mim acreditar que um dia eu teria um canal no qual dividiria as minhas ideias, imagina então escrever para um dos perfis mais legais do país? Estou compartilhando esta historinha não em busca de aplausos, mas como um convite para você que reprime a sua criatividade: considere articular a sua voz, seja como for, e compartilhar suas ideias com o mundo. Nunca se sabe o que pode vir disso.
Com amor,
Paula
P.S. Obrigada, Geraldo, por abrir a sua casa para mim.
BISPO DO ROSÁRIO
Exposição 🧑🏿🎨
Quando contei ao meu pai que eu ia escrever um artigo para o Brazil Journal, ele me perguntou: mas pode alguém que não é jornalista escrever para um jornal? De certa forma, a exposição do Arthur Bispo do Rosário faz o mesmo questionamento: quem não tem formação no ramo pode ser artista?
Mesmo a Vicky já tendo falado aqui sobre a exposição Eu vim: aparição, impregnação e impacto, resolvi trazê-la de volta, pois tive a sorte de visitá-la na semana passada com o professor, crítico e curador Agnaldo Farias.
Do ponto de vista dele, a biografia do artista importa, mas não resolve ou explica a sua arte em si (o caso do Bispo é o perfeito exemplo disso). Já eu não ligo muito para currículos e afins, então o fato de que o artista não teve formação na área pouco me importa. O que, de fato, importa, é o que a obra expressa e o que me faz sentir. E o trabalho do Bispo do Rosário me fez não só sentir muito, mas também viajar longe, refletindo sobre o que poderia estar passando pela sua cabeça enquanto produzia cada peça.
Adorei também a curadoria de Ricardo Resende e Diana Kolker, que completaram a exposição com obras de outros artistas como Maxwell Alexandre, Carmela Gross, Abraham Palatnik e Leonilson. Algumas dessas obras são semelhantes às do Bispo, o que ajuda a legitimar ainda mais a ideia de que formação é algo relativo. Já outras obras são de artistas que, também como Bispo, foram marginalizados a despeito da potência do seu trabalho. Recomendo muito a visita.
Quero maiZ: Este minidocumentário, com depoimentos dos curadores da exposição, é uma introdução bonita ao Bispo e à sua obra:
SUPERBACANA+
Plataforma 🧑🏫
A visita guiada à exposição do Bispo do Rosário foi organizada pela Superbacana+ (Instagram). Para quem não conhece, a Superbacana+ é uma plataforma de cursos, oficinas e projetos especiais muito legal. Agora está rolando uma oficina de aquarela e pigmentos com a Pinky Wainer e um curso de arte contemporânea com o Agnaldo Farias. Mais para frente, eles farão um curso online chamado Tempos e espaços na arquitetura japonesa e uma vivência artística na Patagônia em novembro. Vale assinar a newsletter e ficar de olho na agenda da Superbacana+ para saber o que está acontecendo.
AGENDA DA NAZA 🚀
Os cursos da Superbacana+ estão entre alguns que recomendamos na Agenda da NAZA, junto com dicas de exposições, shows, feiras, restaurantes e muito mais. Na sexta que vem sai a edição de setembro — se inscreva aqui para recebê-la.
LEARNING TO LISTEN TO THE VOICES ONLY YOU HEAR
Podcast 🎙️
Logo em seguida à exposição, ouvi o episódio do podcast The Ezra Klein Show chamado Learning to Listen to the Voices Only You Hear, em que Ezra bate um papo com a monja zen budista Ruth Ozeki sobre as vozes que ouvimos nas nossas próprias mentes.
Achei a conversa muito interessante, principalmente o ponto da Ruth de que o nosso espectro de normalidade é muito limitado e deveríamos apreciar mais a diversidade dos nossos estados mentais. A segunda parte da conversa é sobre coisas, e como elas também têm espíritos e deveriam ser tratadas com respeito. Considerando que a obra do Bispo envolve, muitas vezes, o cuidado e a organização de objetos, e que ele era tachado de louco por ouvir vozes, achei esse podcast a trilha sonora perfeita para a exposição.
Quero maiZ: Tem vários episódios interessantes e profundos do The Ezra Klein Show. Esta entrevista com o Noam Chomsky é ótima para considerarmos alternativas às regras atuais da sociedade. Esta conversa com o filósofo C. Thi Nguyen sobre a teoria dos jogos é um belo convite para refletirmos sobre o papel que métricas — como likes nas redes sociais e dados de performance nos relógios inteligentes — ocupam em nossas vidas. E este episódio com o antropólogo James Suzman questiona: Why Do We Work So Damn Much?
DICA QUENTE 🔥
No final de semana, tive a oportunidade de participar do evento onde rolou a gravação da Casa TPM. Este ano, o evento reuniu mulheres muito legais, como Tati Bernardi, Helen Ramos, Negra Li, Giselle Itié, Djamila Ribeiro e muitas outras, para falar sobre maternidade. O tema foi abordado a partir de vários ângulos diferentes, desde mães de crianças atípicas até mães recém-separadas e como elas estão abordando seus novos relacionamentos. O encontro foi gravado e vai virar uma série, que será lançada em outubro na TV Cultura. Não vejo a hora.
DICA RÁPIDA 🐍
Este ano, a Casa TPM aconteceu na Casa de Cultura do Parque (Instagram), um espaço bonito que recebe uma série de atividades culturais ao longo do ano. No momento, está rolando a pequena exposição Cantos de imagens do Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU). Minha obra favorita foi esta instalação da artista Kássia Borges:
SP-ARTE: ROTAS BRASILEIRAS
Feira 🖼️
Vai até domingo (28.08) a SP-Arte: Rotas Brasileiras (antiga SP-Foto). Este é o primeiro ano da feira no novo formato, que vai além da fotografia para acolher diversas linguagens artísticas. Terão 70 expositores, entre galerias de arte e projetos convidados.

Entre os projetos convidados estão Uma Concertação pela Amazônia (uma rede formada para buscar soluções para o desenvolvimento sustentável da Amazônia), que mostra fotografias da região de seis artistas diferentes; e o Wesley Duke Lee Art Institute, instituto que cuida do acervo do Wesley Duke Lee e usa a feira para homenagear o artista, que teria 90 anos hoje.
Hoje e amanhã, a feira vai sediar Conversas na Arquibancada, uma série de diálogos entre os visitantes e alguns nomes relevantes da arte brasileira, como Sérgio Augusto Porto da Central Galeria e Elza Lima da Arte Pará.

VOTRE BRASSERIE
Restaurante 🇫🇷
Ir a um restaurante logo que abriu nem sempre é uma boa ideia; é comum enfrentar erros de quem ainda está em fase de teste. O Votre me surpreendeu nesse sentido. Por mais que a casa seja nova, eles recebem com uma maturidade típica de quem tem anos de casa (talvez pelo fato de que os donos já têm uma boa experiência com o restaurante Teus).
Pedimos diversas coisas do mar: o tartar de atum, a salada niçoise e o poisson de l’ami Charlô, um peixe com farofa de camarão que leva esse nome em homenagem ao chef. Estavam todos gostosos, mas ouvi dizer que bom mesmo são o filet au poivre e o boeuf bourguignon.
Quero maiZ: Se você está chegando agora, talvez não saiba que no nosso Instagram temos guias de restaurantes japoneses, de pizzarias e de sorvetes em São Paulo. Para completar os guias gastronômicos, temos um de bares e restaurantes em NY e outro de Ibiza. Acompanhem pois em breve vamos adicionar novos destinos. #sextou
Sofrendo que a expo do Bispo do Rosário acaba antes de eu voltar ao Brasil.... :(
E parabéns pelo artigo no Brazil Journal. Eu vibro muito quando emplaco artigos em mídia impressa (e também por não ser jornalista... adorei esse comentário do seu pai). Bjs
Bispo do Rosário me impressiona muito! Esta exposição é imperdível.