Toda semana tenho algo para dizer por aqui. Muitas vezes o desafio é conseguir passar a peneira por tantas ideias que borboleteiam pela minha cabeça.
Esta semana foi diferente. Quando vi, era quinta-feira e eu não tinha nada a dizer.
Em uma tentativa de tentar entender esta paralisia, parei para fazer um balanço da semana. Percebi que nada de muito emocionante tinha acontecido. Foram dias sem grandes altos e baixos. Dormi sete boas horas todas as noites, fiz meus exercícios, passei tempo com a família, não bebi, comecei um novo livro…me encaixei em uma rotina bem sem graça, mas que me faz muito bem.
Para minha mente inquieta, foi esquisito analisar os últimos dias e não encontrar nada muito adrenalínico. Procurei as vozes que moram dentro de mim, e não as encontrei. Bizarro.
Passado o estranhamento inicial, comecei a aceitar e quase gostar desse silêncio. Entendi que as vezes não é sobre cavucar, refletir, concluir, mas “só” sobre agradecer por estar tudo bem.
Com amor,
Paula
Vegetariana 📖
De um dia para o outro, vi as livrarias da cidade serem tomadas por A Vegetariana, obra de Han Kang. A explicação para este fenômeno é que a autora sul-coreana venceu o Prêmio Nobel de Literatura no ano passado.
Prometi para mim que não iria aderir ao hype e comprar o livro, em (mais) uma tentativa de priorizar a leitura dos clássicos que nunca li. Consegui resistir ao impulso na primeira ida a livraria, e na segunda também, mas na terceira caí na tentação.
Publicado no Brasil em 2013 pela editora Devir, e em 2018 pela Todavia, o livro é baseado em um conto que Kang escreveu em 1997. Conta a história de Yeonghye, uma mulher casada que mora em Seoul, a partir do ponto de vista de três narradores; seu marido, cunhado e sua irmã. Começa assim:
Nunca tinha me ocorrido que minha esposa era uma pessoa especial até ela adotar o estilo de vida vegetariano. Para ser bem franco, não me senti atraído por ela na primeira vez em que a vi. Estatura mediana. O cabelo não era nem comprido nem curto. Tinha a pele levemente amarelada, as maçãs do rosto pouco pronunciadas. Vestia-se de forma neutra, como se tivesse algum tipo de receio de se destacar. Calçando um par de sapatos pretos bastante sem graça, ela se aproximou da mesa em que eu a esperava. Não andava nem rápido nem devagar, sem firmeza, mas também sem muita fragilidade.
Esta monotonia logo desaparece, cedendo lugar para uma história bastante dura. Depois de um sonho, Yeonghye decide tornar-se vegetariana, o que acaba desencadeando uma serie de acontecimentos trágicos.
Sendo quase vegetariana há 15 anos, achei interessante a premissa, por mais que o livro não seja sobre escolhas alimentares, e sim sobre violência, saúde mental, e machismo. É sombrio, e provoca reflexões fortes sobre temas como loucura/sanidade, e sobre a nossa relação com a natureza. Não é meu estilo de livro — um pouco bizarro demais para o meu gosto — mas tem valor. Fiquei com ainda mais vontade de mergulhar na cultura sul-coreana.

Quero maiZ: ouvi o podcast que a Quarta Capa Todavia gravou sobre o livro. Foi bom escutar outras pessoas, como o artista plástico Nuno Ramos, interpretarem o livro. O episódio dura apenas 16 minutos, mas é bastante informativo.
Conclave 🎬
O misterioso mundo do Vaticano já serviu de inspiração para muitos cineastas, e gerou bons filmes como Habemus Papam e Dois Papas. Agora é a vez de Conclave, em que o cardeal Thomas Lawrence (Ralph Fiennes) reúne um colégio de cardeais para eleger o próximo papa.
Plasticamente, o filme é elegante. A fotografia, o figurino, e os cenários são refinados. Li que o roteirista, responsável pelo livro que originou o filme, fez uma vasta pesquisa para retratar a morada do papa e sua comitiva; ele se encontrou com um cardeal para discutir a logística do conclave, e fez um tour privado pelo Vaticano. O elenco, composto por Fiennes, Stanley Tucci e Isabela Rossellini, entre outros, é de primeira.
Posto isso, achei o roteiro um pouco forçado. Não quero dar spoilers, então vou medir as palavras, mas achei os plot twists um pouco exagerados. Sem eles, principalmente o último, o filme não teria muita graça, mas acho que poderiam ter sido mais sutis. Lembrei da expressão “Show, don't tell”.
Quero maiZ: Conclave, Ainda Estou Aqui, Anora, Emilia Pérez, A Verdadeira Dor e vários outros filmes estão em cartaz durante a Semana do Cinema. Até o dia 12, a maior parte dos cinemas está oferecendo sessões por R$10, independente do dia e hora. A promoção é uma iniciativa da ABRAPLEX (Associação Brasileira das Empresas Cinematográficas) e da FENEEC (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas). Aproveitem!
Agenda da NAZA 🚀
Como falei no início, esta foi uma semana sem grandes acontecimentos. Assim, a newsletter também acabou ficando mais curta. Para compensar, temos o nosso guia cultural de São Paulo, com centenas de programas acontecendo este mês na cidade. Clique no link abaixo para acessar.
Estalinhos de Esperança ❄️
Se o vento é meu fenômeno temporal favorito, o cair da neve é o som natural que mais me toca.
Mesmo “sem ter nada a dizer” a leitura da sua News é deliciosa!
Estou acabando de ler A Vegetariana para um clube de leitura. Também não é muito o meu estilo, mas é interessante. Vou ouvir o podcast.
Ótima semana!!! 😘
Você disse mais do que imagina, Paula. 😘