"Tá linda mais cheinha", "emagreceu hein", "cuidado para não ficar com o quadril igual ao da Tia Maria", "tem certeza que você quer mais um pedaço de bolo?", "e essa barriguinha aí?", "você está magra demais, parece doente!"
Por incrível que pareça, todos esses comentários foram ditos a mim ou alguma amiga próxima em diversos momentos ao longo da vida.
Outro dia, ouvi uma estatística que me arrasou. Feita a pergunta "Como anda a sua relação com o seu corpo?", 4% disse que está ótima, 12% das mulheres respondeu que está boa, 53% sofrem com altos e baixos e 30% sinalizou que está bem ruim. Ou seja, mais de 8 em cada 10 mulheres têm dificuldade de amar, ou mesmo aceitar, o seu corpo.
Ao mesmo tempo, esse dado não me surpreendeu, pois vejo o quanto esse assunto perturba a mim e a praticamente todas as mulheres ao meu redor. Olho em volta e acho 100% das mulheres lindas, cada uma com as suas características. Com mais ou menos peito, barriga, quadril, altura, não importa — vejo beleza em todas as mulheres. Como é possível que elas não se vejam assim? A resposta vem fácil quando me coloco no lugar delas e penso no quanto sou exigente com o meu próprio corpo. O pior é que sei que vamos olhar para trás quando formos velhinhas e pensar em como éramos lindas.
Que padrões são esses que estamos buscando? Quem os inventou e como eles se perpetuam até hoje, nessa suposta era de inclusão? De onde vem essa cobrança? Essas perguntas não são novas, mas infelizmente elas valem até hoje, já que continuamos escravas de padrões de beleza superficiais.
Não sou nenhuma autoridade no assunto, então nem vou tentar dar sugestões para lidar com ele. Até porque, percebo o quanto é pessoal para cada mulher. Dito isso, sei de uma coisa que todos nós, homens e mulheres, podemos fazer: ser mais gentis uns com os outros. Antes de dizer algo a respeito da aparência do outro, vale refletir sobre como isso pode ser recebido. Quando se trata do corpo, o comentário mais inocente pode doer bastante e ser um gatilho para muitas coisas nocivas.
Com amor,
Paula
Parece que quando você se liga num assunto, ele começa a aparecer ainda mais para você, né? Recentemente, consumi bastante conteúdo que tratava, de uma forma ou de outra, da relação de mulheres com os seus corpos. Compartilho aqui alguns que curti:
Este artigo, além de explicar bem o que é, de fato, "body shaming" (aqueles comentários maldosos sobre o corpo), também sugere várias formas de fazer o oposto, que é chamado de "body positivity". Tem várias dicas boas!
O Instagram da TPM é para mim um dos lugares mais legais da internet no que se diz respeito ao universo feminino. No quesito corpo, é uma fonte infinita de conteúdo nada óbvio, como neste post "Você não tem o corpo dos sonhos se mantê-lo é um pesadelo" e neste "Quantas vezes você deixou de viver memórias incríveis por causa das inseguranças com seu corpo?". Vale não só ler os posts mas também os comentários, que normalmente continuam a conversa de forma bastante rica.

Podcast Fab Talks com Fran Justus: Este episódio em que a Fabiana Justus entrevista sua cunhada Fran Fischer Justus me pegou. É longo e tem várias partes que dizem respeito a uma realidade muito particular — a vida de modelo — mas, em geral, gostei muito da sinceridade com que a Fran relata sobre a sua anorexia e bulimia. É pesado, mas muito importante.
Newsletter Amo News: a Ale Garattoni, criadora da
, fez uma edição inteira dedicada à saúde e ao corpo intitulada Como se cuidar de verdade em 2023? É um verdadeiro dossiê de bem-estar, no qual ela entrevista uma série de pessoas que tiveram diferentes experiências com o corpo. Achei ótimo ler sobre diversas perspectivas.
Artigo Ask A Therapist: How To Escape The Pressure To Lose Weight This Year: Este artigo fala sobre surfar a sua própria onda e não se deixar levar por comentários e tendências destrutivas. Eu não poderia concordar mais.
Newsletter Chapadinhas de Endorfina: As meninas da Obvious fazem um trabalho maravilhoso sobre o tema. A edição do dia 18.01, em que a Isabella Von Haydin fez um relato sobre como um primo seu foi bullied por conta do seu peso, partiu meu coração.
Quando falei para a Vicky que o tema da newsletter desta semana seria esse, ela, como mulher e médica, trouxe novos ângulos para o assunto que eu desconhecia, como este caso da experiência traumática que uma mulher passou no avião, que reflete bem a gordofobia da nossa sociedade. Deixo aqui mais duas dicas valiosas dela:
O artigo Quem tem obesidade não precisa se tornar magro para ser mais saudável da Lúcia Helena, jornalista especializada em saúde que escreve de um jeito original e divertido, sem perder de vista fatos científicos.
O livro I’m Glad My Mum Died de Jennette McCurdy. Toda vez que leio o título desse livro, fico um pouco desconcertada, mas já ouvi de muitas pessoas que vale pelo conteúdo. A Vicky me contou que um dos temas centrais do livro são os distúrbios alimentares, que a própria mãe da autora lhe ensinou e incentivou desde muito nova.

Se você tiver algum conteúdo para recomendar sobre o tema, que tal deixar nos comentários? Estou adorando ler mais sobre o assunto e tenho certeza que a sua dica pode ajudar muita gente.
Hacks 📺
Agora falando de ficção, adoro como a série Hacks (IMDb) (HBOMax) aborda esse assunto. Em diversas ocasiões, Deborah Vance, a personagem principal brilhantemente interpretada pela Jean Smart, critica os hábitos alimentares de sua par, a personagem Ava Daniels, interpretada pela Hannah Einbinder, que não está nem aí para as calorias — o que ela quer é ser feliz. Tem várias cenas maravilhosas em que a Ava se delicia com guloseimas enquanto a Deborah, que vive há décadas numa dieta extremamente restritiva, fica chocada.

A atuação das duas é absolutamente brilhante e o roteiro é maravilhoso, marcado por um humor ácido e piadas sagazes. Se você ainda não viu, recomendo muito. São episódios curtos, de menos de meia hora, para dar umas boas risadas. Já estou contando os minutos para a terceira temporada!
A Vida Mentirosa dos Adultos 📚
Entre os temas abordados na obra de Elena Ferrante — como política, religião, relações familiares e feminismo — a questão da imagem da mulher está sempre presente em seus textos. Em A Amiga Genial, a protagonista Elena Greco sofre muito durante a adolescência com as mudanças de seu corpo. Já em A Vida Mentirosa dos Adultos, a protagonista Giovanna faz 16 anos e está bem na fase de transição de menina para mulher e, com isso, cheia de inseguranças. Os comentários sobre a sua aparência são incessantes, a ponto de que isso vira até uma metáfora para um outro tema. Esta resenha da Intrínseca resumiu bem a questão:
As mudanças no rosto de Giovanna anunciam o início da adolescência e não passam despercebidas em casa. Dois anos antes de abandonar a família e o confortável apartamento no centro de Nápoles, Andrea não se dá conta do que sentencia quando sussurra para a esposa que a filha é muito feia. Essa feiura estética, mas que também indica uma possível falha de caráter, recai sobre Giovanna como uma herança indesejável de Vittoria, a irmã há muito renegada por Andrea.
Ainda não li o livro (que já sei que vou adorar, como tudo da Ferrante), mas acabei de assistir a série A Vida Mentirosa dos Adultos (Netflix) e adorei. Os atores são excelentes, o roteiro é intrigante e a direção, pontuada por ótimas músicas, é maravilhosa.

Oscars 🏆
Por fim, esta semana saíram os indicados ao Oscar, que acontece no dia 12.03. Nerd que sou, vou correr para tentar assistir a todos antes da premiação. Tem vários indicados que já mencionei aqui, como Elvis, Tár e Avatar e vários que ainda preciso ver como Os Fabelmans e Banshees of Inisherin. Como hoje estamos falando de corpo, vou deixar aqui a dica de um indicado que eu amei e já mencionei aqui.
Triângulo da Tristeza, do diretor sueco Ruben Östlund, não é exatamente sobre esse tema, mas a primeira cena é uma ótima sátira sobre a indústria da moda e consequentemente da estética que ela promove.

Agenda da NAZA 🚀
Está em São Paulo este final de semana e procurando o que fazer? Aqui na Agenda temos dezenas de sugestões de exposições, shows e muitas outras novidades para você curtir. #sextou
Amei esta edição e fiquei MEGA honrada de ter meu dossiê linkado aqui, obrigada pelo apoio sempre!
Essa edição vale por algumas sessões de análise 🙏🏻🙏🏻🙏🏻