Toda vez que passo um tempo fora, retorno olhando a cidade como se fosse a primeira vez.
O piche ao lado da igreja, sempre esteve ali? O parque já tinha tantas ativações, comendo cada vez mais o espaço da grama? O telhado da banca sempre foi torto? E essa mercearia, já existia? Pelo visto sim, está escrito que começou em 1958…
O cheiro ao sair do aeroporto continua o mesmo; confusão com notas de desvario. A árvore roxa na esquina do caos também permanece, floridíssima. O almoço de todo domingo era muito melhor na lembrança. Essa placa de rua — Patolamento de Guindaste — é novidade. Eis aí uma palavra nova para a minha coleção.
Na esquina que leva ao mercado, procuro a angústia que estava estacionada na última vez que passei por ali. Caminho, caminho, caminho, e não encontro... Sair, dar uma volta, para então voltar para casa pode ser muito bom.
Com amor,
Paula
Giro de Filmes 🍿
Não diria que este é um ano de grandes filmes, ainda mais quando comparo com os indicados ao Oscar do ano passado como Anatomia de Uma Queda, Os Rejeitados, Assassinos da Lua das Flores, Oppenheimer, Maestro, Vidas Passadas, Pobres Criaturas, Zona de Interesse, Dias Perfeitos… Nenhum dos que vi até agora me balançou como estes.
Por outro lado, os nomeados deste ano tem acertado muito no quesito humor e originalidade, como é o caso dos três que vi esta semana:
Anora: o filme do americano Sean Baker (Projeto Florida, Tangerina) conta a história de uma trabalhadora sexual do Brooklin que se envolve com o filho de um oligarca russo. Mikey Madison, a atriz de 25 anos que interpreta a personagem principal, dá um verdadeiro show, comandando a cena como ninguém. Madison já havia atuado em produções grandes como Era Uma Vez Em... Hollywood, entre outros, mas é como Ani que ela brilha.
O roteiro é original e divertido, mas se perde um pouco. Com quinze minutos a menos na segunda metade, penso que ganharia força. Dito isso, a cena final é a coroa perfeita para o filme.
Emilia Pérez: o longa do francês Jacques Audiard (Um Profeta, A batida que meu coração pulou) está dando o que falar. Primeiro porque foi indicado a treze categorias do Oscar, sendo assim o filme com mais nomeações deste ano. Depois, o burburinho ganhou outro tom, por conta de comentários preconceituosos proferidos pela protagonista, a atriz Karla Sofía Gascón.
Além da reprimenda à Gascón, o filme também tem sido criticado por retratar a cultura mexicana de forma caricata, e por mostrar pessoas transgênero de maneira estereotipada. Nesta resenha publicada pelo jornal inglês The Guardian, é possível ler mais sobre a ascensão e queda de Emília Perez.
Polêmicas à parte, o filme tem pontos fortes, começando por sua originalidade. Já imaginou um musical sobre um narcotraficante cujo sonho é fazer uma transição de gênero? Surreal!
Vai ser interessante ver como o Oscar vai votar perante tamanha controvérsia.
A Verdadeira Dor: escrito, dirigido e protagonizado por Jesse Eisenberg, o longa acompanha a viagem pela Polônia de dois primos que buscam homenagear sua avó.
Conversando com um amigo, concluímos que não gostamos do roteiro; a trama dá uma volta inteira, para não chegar à lugar nenhum. Depois, os personagens são pouco críveis, e exagerados.
Dito isso, a maioria não parece concordar, e a performance de Culkin tem sido reverenciadíssima. Gosto de ouvir outros pontos de vista, principalmente os que pensam diferente de mim, como este aqui.
Em linhas gerais, adorei a premissa dos três filmes, mas gostei menos da execução. Vou adorar saber o que vocês estão achando dos indicados até agora.
A árvore mais sozinha do mundo 📚
A pouca paixão pelos filmes da semana foi totalmente compensada pelo quanto estou gostando do novo livro de Mariana Salomão Carrara, A árvore mais sozinha do mundo. O ano mal começou, e já sei que será uma das minhas leituras favoritas.
O enredo é o seguinte: Guerlinda e Carlos são um casal que vive com os filhos em uma pequena roça no Sul do Brasil e se dedica ao cultivo do tabaco. Na dura época da colheita, a mãe de Guerlinda é chamada para ajudar nos trabalhos, e sua chegada transforma os já desgastados contornos da rotina familiar.
O que faz o livro ser espetacular é a escrita de Carrara, que conta a história da família através de narradores inanimados, como uma árvore, um carro velho, um espelho e uma jaqueta de segurança. É através destas perspectivas, cada uma com sua voz, que construímos o nosso recorte da vida da família. Sensível, triste e brilhante.
Quero maiZ: Carrara, que é também defensora pública, já apareceu por aqui outras vezes. Seus livros Se Deus me chamar não vou (finalista do Jabuti em 2020), É sempre a hora da nossa morte amém (2021), e o vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, Não Fossem as Sílabas do Sábado (2022), estão entre meus favoritos.
Agenda da NAZA 🚀
Vai estar em São Paulo no final de semana? Aproveite para acessar o nosso guia cultural da cidade, repleto de dicas de arte, música, teatro, festas, gastronomia, e muito maiZ, além de uma sessão extra dedicada ao Carnaval. É uma forma de se manter atualizado, e de apoiar o nosso trabalho. Muito obrigada!
Estalinhos de Esperança ❄️
Se o vento é meu fenômeno temporal favorito, o cair da neve é o som natural que mais me toca.
Happy Valentine’s Day ♥️
Eu não sei se A Verdadeira Dor vale o Oscar e achei a atuação do Culkin bem parecida com a que fez em Succession (só que pobre). Ainda assim, gostei do filme. Achei que deixou claro o contraste de quem está lutando para preservar a saúde (e sanidade) mental e quem vive um luto prolongado, com sua montanha-russa louca.
A Real Pain pra mim é o melhor filme da temporada. Amei muito. Vale ouvir podcast com Jesse para contexto!