Quando quebrei o nariz, algumas pessoas me perguntaram se eu aproveitaria a ocasião para fazer plástica. Para quem não me conhece pessoalmente, tenho um nariz importante, para não dizer grande. É uma das minhas heranças armênias.
Operar o nariz não era algo que passava pela minha cabeça até então, mas nesse momento de fragilidade, considerei a opção. Cheguei até a perguntar para o médico se seria possível “consertar” o nariz enquanto ele arrumava os ossos quebrados, ao que ele respondeu: uma coisa não tem nada a ver com a outra, é tipo quebrar a perna e querer fazer lipo. O pós-operatório da cirurgia foi tão desagradável, que logo desisti da ideia da plástica.
É verdade que meu nariz passa longe do pódio da beleza, mas ele é o que me faz ser eu. Em um mundo onde tudo está cada vez mais padronizado — rostos, corpos, comidas etc. — são as “imperfeições” que garantem a nossa individualidade. E, digo mais, tem algo mais apaixonante do que “defeitos”? Cicatrizes, curvas, gordurinhas, pintas, manchas, manias, trejeitos, hábitos…São as nossas perfeitas imperfeições.
Com amor,
Paula
Fernanda Montenegro Lê Simone de Beauvoir no Sesc 14 Bis 🎭
Todos nós temos defeitos, mas a Fernanda Montenegro não tem rsrs. Que privilégio a ver ao vivo, lendo Simone de Beauvoir. Valeu todo o sacrifício para conseguir os ingressos na plataforma do Sesc.
Durante 75 minutos ininterruptos, Fernanda interpreta trechos da obra de Beauvoir “A Cerimônia do Adeus”. Foram dois anos para a atriz organizar o texto, que conta com frases icônicas como “não se nasce mulher, torna-se mulher” e “o amor tem um preço para as mulheres”. De acordo com Fernanda, "ao ler, no palco, Simone de Beauvoir, nós nos conscientizamos da liberdade que essa Mulher se impôs e propôs a todas as gerações que a sucederam". E, para nós espectadores, ver uma Mulher, no auge de seus 94 anos, revisitar a obra de Beauvoir com tamanha força, nos inspira a nos tornar a nossa melhor Mulher.
Calder+Miró no Instituto Tomie Ohtake 🎨
O pintor catalão Joan Miró e o escultor americano Alexander Calder entram facilmente na minha lista de artistas favoritos. Os dois, que eram amigos, foram pioneiros no conceito da abstração como um canteiro aberto para a experimentação, marcada por modos de criação intuitivos, de artistas de circo, da mecânica e da poesia.
Na mostra Calder+Miró, o Instituto Tomie Ohtake reúne trabalhos de ambos os artistas, em uma dança simbiótica colorida e fantástica. Além dos trabalhos da dupla, estão em cartaz obras de artistas brasileiros como Hélio Oiticica, Mira Schendel, Milton Dacosta e Abraham Palatnik, que dialogam com os trabalhos de Calder e Miró. Ao todo, estão expostas cerca de 150 obras, ocupando quase todo o espaço expositivo do instituto.
Quero maiZ: a foto acima é da obra Viúva Negra, doada pelo próprio Calder ao Instituto dos Arquitetos do Brasil em 1954. Descobri a história por trás do mobile quando visitei o IAB pela primeira vez, e o responsável pelo prédio arregaçou as mangas para me mostrar uma tatuagem em seu braço com um desenho da escultura. A obra passou anos em NY por conta de uma reforma, e voltou ao Brasil agora para a exposição. Na mostra, ela está acompanhada de um trecho de uma crônica de Rubem Braga escrita em 1959 para O Globo, na ocasião da abertura da exposição de Calder no MAM.

De acordo com o curador da exposição Max Perlingeiro, "Calder só não foi brasileiro porque nasceu nos Estados Unidos. Ele gostava de samba, de Heitor dos Prazeres, cachaça e feijoada". Saí da exposição com vontade de saber mais a respeito da relação de Calder com o Brasil. Descobri então que a Cosac Naify publicou este livro em 2006.

Agenda da NAZA 🚀
O espetáculo de Fernanda Montenegro e a exposição Calder+Miró foram destacados na Agenda da NAZA de julho, junto com dezenas de outras dicas. Entre no link abaixo para conferir o nosso guia cultural completo.
Giro de Documentários 🍿
Aproveitei que a safra de cinema está fraca para assistir alguns documentários no streaming:
Salvatore: Shoemaker of Dreams (Prime Video): o que me levou a ver esse filme foi o fato dele ter sido dirigido por Luca Guadagnino, diretor que adoro. São dele filmes como I Am Love, A Bigger Splash, Call Me by your Name e Challengers. Através de depoimentos de familiares, historiadores, e de personagens como Manolo Blahnik e Martin Scorcese, Guadagnino constrói o perfil de Salvatore Ferragamo, um dos mais importantes designers de sapatos de todos os tempos. Achei interessante descobrir que ele começou sua carreira fazendo sapatos para artistas americanas, e ver que ele era um grande inventor, criando e patenteado centenas de modelos de sapatos. Tendo estudado anatomia, Ferragamo criava sapatos tanto ousados quanto confortáveis, revolucionando seu meio.

A Noite que Mudou o Pop (Netflix): conta a história por trás da gravação da música We Are The World. Tem cenas incríveis como quando todos os artistas cantam em coro Banana Boat (Day-O) de Harry Belafonte, e quando Stevie Wonder ajuda o Bob Dylan a cantar seu verso.

I Am: Celine Dion (Prime Video): esse documentário, que acompanha os últimos anos na vida de Celine Dion, não é para os fracos. Ao longo de quase duas horas, a câmera acompanha a artista que enfrenta a rara Síndrome da Pessoa Rígida (SPR), sem nos poupar de nada. Cenas fortes não são editadas, fazendo com que a cantora apareça de forma extremamente vulnerável e real. Senti muito pela sua dor, mas sua força me inspirou. Fiquei com essa frase: if you wanna go fast, go alone. If you wanna go far, go together.

Federer: Twelve Final Days (Prime Video): assistindo esse documentário, que acompanha os últimos 12 dias da carreira do Federer, mudei a minha percepção sobre o tênis. Se antes eu achava o esporte solitário, o filme me fez ver que existe um lado muito comunal por trás das raquetes. Primeiro, o longa deixa claro o papel que a família, os treinadores e amigos tiveram nas conquistas de Federer. Depois, adorei ver a amizade e o respeito que existe entre os jogadores. Inicialmente, as gravações foram feitas para o próprio Federer ter como lembrança, e não para virem a público, fazendo com quem alguns dos momentos retratados sejam bem íntimos.
Barouche 🍷
Livros, drinks, vinhos e comidinhas…ta bom não ta? Um misto de café, bar, restaurante e livraria, essa é a proposta do novo Barouche, que acabou de renascer na Vila Madalena. O cardápio é enxuto, mas tudo que provei estava gostoso, com destaque para o carapau cru servido com bottarga, e a seleção de queijos brasileiros. Fiquei com vontade de voltar para explorar os livros e provar os drinks.

Bom final de semana para todos, e bons sonhos!
Seu nariz é tão lindo! Faz seu rosto ser anguloso, lindo! Deixa a nhaca do comentário alheio de lado e saia desfilando de nariz empinado!
Paula Querida,
As vezes tenho vontade de morar em SP só para fazer os programas que você indica! 😊
Os documentários já estão anotados, adorei as dicas!!!
Bj grande.