Cresci, como suponho que muitos de vocês também, ouvindo a respeito das maravilhas da Bahia. Toda vez que alguém começava a falar do estado baiano, baixavam um tom na voz, e um certo dengo tomava conta. Eu, que só fui conhecer o Nordeste mais velha, fazia perguntas para tentar entender o porquê dessa paixão toda, mas as respostas eram sempre vagas, até meio misteriosas... Ah, a Bahia…
Minha primeira experiência não foi a melhor. Fui parar em um resort lotado, peguei chuvas torrenciais, e sofri com o ritmo. Não foi amor à primeira vista. Voltei uma vez, outra, até a Bahia virar o lugar para onde vou quando preciso me desconectar da correria da vida moderna, e me encontrar comigo. Quando o negócio aperta, não é para Bali e nem para a Índia que quero ir, mas para a Bahia. É meu porto seguro, meu espelho, minha salvadora.
Agora, se você me perguntar o porquê, temo que minha resposta também será blasé... Sim tem a brisa, o mar, a cadência…, mas a Bahia tem um quê, que é difícil de descrever; só indo para saber. Ah, a Bahia...
Com amor,
Paula
Salvador com Nomad Roots ✈️
O que me inspirou a escrever o texto acima foi esta viagem que a Nomad Roots está organizando no mês que vem para Salvador. Depois de ver este vídeo, fiquei tão encantada pela originalidade da proposta, que pedi para a Adriana Lacerda (Teté) nos contar um pouco sobre como foi o processo de criar essa viagem. Curadora de viagens da Nomad Roots, foi ela quem pensou em cada detalhe do roteiro que acontece agora no feriado da Consciência Negra (20 de novembro). Divido aqui com vocês trechos da nossa conversa:
Teté, você é baiana?
Sim, nasci em Salvador, na Bahia. Mas, com 11 meses de idade, fui morar fora do Brasil. Morei no Peru, EUA, Espanha, Chipre e em outras cidades brasileiras. Nos últimos 5 anos, venho passando mais tempo na Bahia.

Como nasceu a ideia da viagem para Salvador?
Essa é uma viagem que eu venho sonhando e pesquisando desde 2020. Na verdade, ela começa bem antes disso, quando li Um Defeito de Cor de Ana Maria Gonçalves, que é um dos meus livros preferidos e fala muito sobre ancestralidade. Na obra, tem um provérbio africano que diz:
“Quando não souberes para onde ir, olhe para trás e saiba pelo menos de onde vens.”
A partir daí, decidi investigar minha ancestralidade, o que se intensificou ainda mais depois que fiz um curso de constelação familiar. Morei fora por muito tempo e já viajei para muitos países (94!), mas de uns anos para cá, venho passando mais tempo na Bahia, e tenho me reconectado cada dia mais com as minhas raízes. Ao longo dos últimos anos, tenho feito uma pesquisa profunda sobre a cultura da Bahia através de vivências, leituras e conversas, que passam por literatura, arte, gastronomia, religião, música, dança, arquitetura e história. À medida que vivo tudo isso, me apaixono ainda mais pela minha terra, que é um recanto da África aqui no nosso Brasil.

Porque você escolheu destacar Jorge Amado, Carybé e Pierre Verger no programa da viagem?
Nas minhas pesquisas, cheguei inevitavelmente em Jorge Amado, que era baiano e foi um dos maiores escritores brasileiros. Ocorre que quanto mais eu lia sobre o autor, mais eu aprendia sobre dois de seus grandes amigos: Carybé, que foi um pintor e artista argentino, e o fotógrafo e etnógrafo francês Pierre Verger. Ambos vieram morar na Bahia, e retrataram como poucos a nossa baianidade. Muitas das cenas que lemos nos livros de Jorge Amado estão nas pinturas de Carybé, e nas fotografias de Pierre Verger. Além de uma profunda amizade, os três tinham um verdadeiro encantamento pelo jeito de ser e de viver do povo baiano. Então, não tem como mergulhar na cultura de Salvador e da Bahia, e não falar de Jorge Amado, Carybé e Pierre Verger.

Tem algum livro em especial de Jorge Amado que você gosta?
Descobri nas minhas pesquisas que o livro que trouxe muitas figuras renomadas para a Bahia, como Sartre e Simone de Beauvoir, foi Jubiabá. Então, fui ler a obra para entender o que fez pessoas tão importantes virem ao meu estado, e ela me inspirou a construir o roteiro dessa viagem.

Como você descreve o roteiro da viagem?
Ao longo de 5 dias e 4 noites, vamos ver e viver as joias culturais de Salvador, através de história, arquitetura, sincretismo religioso, manifestações culturais e artísticas. Já dando um spoiler, também teremos a oportunidade de vivenciar a cultura patrimonial da Bahia: o candomblé, a capoeira, a percussão baiana... Além disso, veremos de perto porque Salvador é considerada um canto da África; sempre digo que existe um cordão umbilical que conecta a Bahia com o continente africano.

Quem você acha que pode gostar dessa viagem?
Quem gosta de viajar para viver experiências que nos inserem na cultura local, como uma espécie de imersão. Essa viagem é perfeita para quem é uma pessoa curiosa e tem vontade de conhecer mais sobre a história do Brasil; tem interesse e paixão por cultura, gastronomia, religião e história. Mesmo que você não conheça muito sobre a vida e obra desses três artistas, eu garanto que você vai vivenciar profundamente muitos aspectos da cultura baiana!
Para quem gosta de arte e música, essa viagem para Salvador é única. Porque, além da escrita de Jorge Amado, da pintura e arte de Carybé, e da fotografia de Pierre Verger, vamos conhecer outros artistas renomados da Bahia. Vamos viver a Bahia de Dorival Caymmi, Vinicius de Moraes, Mario Cravo, Calasans Neto, Genaro de Carvalho, Carlos Bastos, Tatty Moreno, Lina Bo Bardi.
E, se já conhece Salvador, tenho certeza que você vai descobrir uma Salvador diferente, que só quem conhece muitos cantinhos dessa cidade pode te mostrar!
Qual lugar você acha que todo mundo deveria conhecer no Brasil?
A sua cidade. Sou muito defensora da ideia de conhecer de onde você veio. Eu estudo constelação familiar e ThetaHealing — terapias de energia de cura — e um conceito primário dessas práticas é conhecer a sua ancestralidade, saber de onde você veio, e sobre os que vieram antes de você. Depois de conhecer a sua cidade, acho importante visitar alguns lugares do Brasil. Sou apaixonada pelo nosso país, e defensora da cultura brasileira.
Dito isso, acho importante ir a Salvador, por ser uma cidade que guarda muitos capítulos da nossa história, inclusive do que Pierre Verger chamou de “Fluxo e Refluxo”, tema dos estudos dele que viraram livro, sobre o cordão umbilical que une a África com a Bahia e o capítulo mais triste da nossa história; a escravidão.
Também acho essencial visitar a Amazônia, que tem uma energia sem igual no mundo, para poder sentir a potência dessa farmácia natural do nosso planeta, aprender sobre os saberes ancestrais dos povos originários, e entender porque temos que ser defensores da Amazônia, ou simplesmente para absorver aquela energia regenerativa.

Quais destinos estão na sua lista de desejos?
Os 5 “stãos": Turcomenistão, Uzbequistão, Quirgistão, Tajiquistão, Cazaquistão; Nigéria (para continuar meus estudos de cultura afrobrasileira; ano passado fui para o Benin e voltei com muita vontade de ir para a Nigéria) e Madagascar (para ver aqueles baobás incríveis, que são árvores sagradas para várias culturas africanas e para o candomblé).
Por fim, você gostaria de deixar algum recado?
Essa será a terceira edição dessa viagem, e as edições anteriores me provocaram uma emoção muito grande! Em 10 anos de turismo, foi a viagem mais especial que já organizei e participei, porque foi uma jornada de volta para casa. Também porque percebi que, no fundo, somos todos um pouco baianos, um pouco africanos, um pouco indígenas, um pouco europeus; somos essa mistura! Acredito que foi essa mescla que encantou Carybé e Pierre Verger, dois estrangeiros tão baianos, tão brasileiros!
Que tal, vamos para a Bahia? Restam pouquíssimas vagas! Para saber mais, clique aqui.
Para falar diretamente com a Adriana, escreva para: adriana@nomadroots.com.br
Agenda da NAZA 🚀
São Paulo pode não estar na Bahia, mas oferece um leque infinito de programas culturais para explorarmos. Na Agenda da NAZA selecionamos vários deles. Para acessar o guia, clique no link abaixo; ele está disponível para nossos queridos apoiadores, por R$ 22. Muito obrigada!
Bancos 🪑
Se eu fosse projetar uma cidade, ela teria muitos bancos. Colocaria um em cada esquina, convidando as pessoas a se sentarem. Nem que seja por um breve momento, abancar-se é uma forma de parar um pouco, na correria do dia a dia.
Paula,
Que delícia de conversa e de viagem! Me deu vontade de embarcar nessa, mas é uma pena que eu estou longe! Adorei!!!
Bj grande e ótima semana.
Um estado que mora no meu coração.