A decisão mais corajosa que tomei nos últimos tempos foi a de não escalar um vulcão. Com quase 4000 metros, o Acatenango é um dos vulcões ativos mais altos da América Central. Dormir em sua base e despertar antes do nascer do sol para ver as erupções do vizinho Fuego está na lista de desejos de viajantes mundo afora, e estava na minha; parecia ser a forma perfeita para comemorar o sucesso da minha cirurgia no colo do fêmur três meses antes.
Consegui me organizar para fazer a trilha no ano passado. Me despedi das minhas companheiras de viagem na capital da Guatemala, e segui sozinha até o ponto de partida, onde fui recebida por um guia de 26 anos. Conversamos, e ele me explicou que subiríamos noite adentro até chegar ao acampamento onde “dormiríamos” um pouco — o vento e o frio são tão intensos, que descansar não é tarefa fácil — para então continuar a escalada até o cume nas primeiras horas da manhã. O percurso é muito íngreme, e teríamos que fazer em tempo recorde para estar de volta no dia seguinte a tempo do meu voo de regresso. Adorei o desafio e, às cinco horas da tarde, com o céu fechado, começamos a andar.
Logo de cara, me senti insegura. Escorregava no terreno arenoso com a mochila de trinta litros nas costas e recordava do meu médico, que era totalmente contra a aventura. Pensava nas minhas amigas que, apreensivas, aguardavam notícias na capital guatemalteca. Lembrava dos meus pais, para quem eu pretendia contar da minha peripécia no dia seguinte, quando já estivesse em terra firme.
A cada passada, uma voz interna me dizia para dar meia volta. Mas….como assim desistir? Aquele era meu sonho, e um sonho bem caro, diga-se de passagem. Além disso, “desistir" é um termo que nunca fez parte do meu vocabulário.
Me forcei a continuar subindo, até que não pude ir mais. Estava frustrada, mas sabia que parar era a decisão certa. Em choque, meu acompanhante fez de tudo para me convencer, repetindo frases como: você consegue, tenho certeza! Você veio até aqui, não desista! Não deixe sua mente vencer! Ouvi com carinho — até porque ele estava fazendo seu papel como guia — mas reafirmei meu desejo. Falei para ele que, no meu caso, abandonar aquela trilha era um sinal de força, e não de fraqueza.
Hoje, olho para trás e vejo como aquele foi um dos primeiros momentos em que deixei de ser menina, e passei a ser Mulher; onde minha preocupação com a opinião do outro ficou pequena perante o meu amor por mim, e meu respeito pela vida. É preciso ter coragem para ir atrás dos nossos sonhos, mas é necessário ainda mais para saber quando é a hora de deixá-los para trás.
Com amor,
Paula
P.S. Escrevi esse texto antes dos acontecimentos dessa semana. Hoje, me pego pensando na coragem que a Juliana Marins teve de se lançar para cima de um vulcão, mas principalmente na bravura que ela demonstrou ao dizer que estava cansada, e parar para descansar. Dei sorte de ter feito a minha escalada vulcânica com um guia só para mim, de forma que pudemos voltar assim que eu quis. Não sei como teria sido se estivesse em grupo. Sinto muito pelo desfecho da história da Juliana. A newsletter de hoje é para ela 🖤
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