Talvez você já tenha ouvido alguém começar uma frase assim: "eu, que faço [terapia/análise/meditação/constelação familiar/yoga/retiros], posso dizer que…", ou até algo do gênero "tomei [ayahuasca/cogumelos/ketamina], e asseguro que…" Se bobear, pode ser que você mesmo já tenha dito algo nessa linha. Eu, na minha pior versão, já iniciei várias falas assim.
Já contei aqui, de algumas formas diferentes, que sou muito a favor de "terapias alternativas" como ferramentas de autoconhecimento e cura. Se vocês tiverem interesse pelo assunto, vou adorar elaborar mais sobre ele em uma newsletter futura. Mas o papo de hoje é um alerta; um aviso para um efeito colateral que pode vir com essas práticas.
Estou falando do que chamo de “arrogância espiritual”. A questão é que essas práticas podem ser tão curativas, que não é raro sairmos delas achando que agora conhecemos o "segredo da humanidade"(e que os demais não sabem de nada).
O problema é que isso é uma grande falácia. Além de ninguém ser melhor do que ninguém, não acredito que exista um "chegar lá", onde você atinge um grau de evolução onde tudo sabe (e o Ram Dass provou isso da melhor forma, com a frase abaixo).
Portanto, do auge de toda a minha “grande” sabedoria espiritual, afirmo; sejamos humildes, ouçamos o próximo e aceitemos que nada sabemos.
Com amor,
Paula
Elefantes na Neblina 🐘
Justo quando eu estava refletindo sobre "arrogância espiritual", ouvi esse episódio do podcast Elefantes na Neblina, em que eles discutem o tema. Para quem não conhece, o podcast é uma conversa entre três amigos cujas identidades são mantidas em segredo, sob a premissa; “jogar alguma luz sobre assuntos grandes, muitas vezes incômodos, e conversar sobre o que é ser um humano em nossos curiosos e complexos tempos”.
Logo no inicio do episódio, um dos entrevistadores cita o livro Jogo Infinito do Simon Sinek, fazendo a seguinte reflexão; temos que tomar cuidado para não confundir a nossa jornada de autoconhecimento, com a ideia de que percorremos um caminho e eventualmente chegamos em algum lugar. Essa provocação gerou um papo super interessante entre o trio. Mais adiante, os três amigos conversaram sobre Inteligência Artificial, que eles apelidaram de "A Coisa", que deu o título para o episódio.
Quero maiZ: ao final de cada episódio do Elefantes na Neblina, ouvimos uma música diferente. Nesse episódio, a musica escolhida foi Me Maten, do cantor espanhol C. Tangana (também conhecido como “El Madrileño"). Fui pesquisar e descobri que o cantor, que já fez até uma parceria com o Toquinho, fez um show muito legal para o Tiny Desk. Para a ocasião, ele reuniu um coletivo de músicos incríveis, incluindo alguns de flamenco. Vale muito a pena assistir.
Jana Viscardi no Daria um Livro 🎤
Neste episódio da nova temporada do podcast Daria um Livro, o Pedro Pacifico (o Bookster) e a Sophia Alckmin entrevistaram a linguista Jana Viscardi, que também falou sobre arrogância. Nesse caso, ela falou da arrogância no contexto das supostas "normas de linguagem", e como o medo de falar ou escrever “errado” acaba inibindo tantas pessoas.
Eu, que já deixei de escrever por vergonha de “escrever errado”, gostei muito de ver como a Jana questiona esses conceitos. Além disso, em um mundo onde a linguagem está em constante transformação, foi bom ouvir alguém que estuda o tema à fundo.
Yoga por Emmanuel Carrère 📖
Se tem uma coisa que o Emmanuel Carrère não é, ou pelo menos não aparenta ser na versão de si que ele apresenta em Yoga, é um arrogante espiritual. Ao contrário, ele passa grande parte do livro falando sobre suas falhas e defeitos, mesmo praticando yoga e meditação há trinta anos.
Caso alguém te recomende o livro, tem grandes chances da pessoa imediatamente fazer um disclaimer dizendo que, apesar do nome, o livro não é sobre yoga. Então, sobre o que é?
Como o livro tem um cunho bastante filosófico, acho que ele representa diferentes coisas para diferentes leitores. Vou tentar descrever o que ele é para mim, e para fazer isso vou pegar emprestado o método que o Carrère usou para descrever o que a yoga é para ele (uma lista com diversas definições).
Um relato da jornada de vida de um homem francês, e da sua luta contra transtornos psíquicos.
Uma foto sem photoshop da bipolaridade, capturada por diversos ângulos.
Uma caixa de surpresas.
Um bom lugar para refletir sobre o processo da escrita.
Um olhar sensível para o ser humano, seja um menino refugiado ou um editor da vida toda.
Uma narrativa com um ritmo particular e um tom intimista.
Uma fonte de boas referências, como esse vídeo da pianista Martha Argerich.
Uma obra com buracos, já que sua ex-mulher obrigou o autor a retirar qualquer menção à ela e a filha.
Uma história sobre alguém que foi de certa forma afetado por um ato de terrorismo real.
A prova viva de que fazemos planos apenas para desfazê-los depois.
Um bom tópico para uma conversa com amigos (aliás, adoraria ver essa lista feita pelos meus - tenho certeza que seria totalmente diferente).
Mesmo com todas essas definições, terminei o livro sem muito saber como o definir. Não sei ainda dizer nem sobre o que é, e nem se gostei, mas certamente me fez refletir bastante.
Quero maiZ: quando terminei o livro, fiquei curiosa para conhecer melhor o renomado autor, considerado um dos maiores da atualidade. Essa matéria em inglês e essa em português foram bons pontos de partida.
Drauzio Varella no Theatro Municipal 👨🏼⚕️
Tudo que o Emmanuel Carrère tem de duro e narcisista, o Drauzio Varella tem de amoroso e humano. Cada dia que passa, fico mais encantada pelo seu trabalho.
Essa semana, ouvi a gravação da conversa dele com o Rodrigo Casarin, jornalista e idealizador do podcast Página Cinco, que aconteceu no Theatro Municipal em função do prêmio Jabuti. Adorei ouvir ele falar sobre o seu trabalho com a floresta, e também sobre a importância dos médicos examinarem os seus pacientes com o bom e velho toque. A sua experiência de vida e a forma humana como ele enxerga a medicina me emocionam.
Agenda da NAZA 🚀
Em novembro, demos a dica da palestra do Drauzio na Agenda da NAZA, junto com uma série de conversas que estavam rolando no Municipal naquela ocasião.
Você já assina a nossa Agenda? É uma forma bem legal de ficar sabendo o que está rolando na cidade durante o mês. Para entrar na edicão de maio, é só clicar nesse link aqui embaixo👇🏽
Bar dos Cravos 🍸
Sinto que a cada dia que passa, um bar novo abre em São Paulo. Está impossível acompanhar tantas aberturas!
No final de semana passado, fui conhecer o Jabali, que já mencionei aqui, depois de um omakase divertido (e com bom custo benefício) no Koya 88. O próximo da lista é o Bar dos Cravos, recém aberto no Paraíso.
O forte parecem ser os drinks feitos pela Stephanie Marinkovic e a cozinha comandada pelo chef Guto Cavanha. A ideia dos sócios é trazer de volta uma atmosfera boêmia. Tintin.
Eu amei amei o Yoga. Adorei a sua lista, tô super de acordo. Mas não acho ele narcisista - eu gosto da ideia dele de que olhar para si é o que tem de mais real na vida dele, o que tem de mais difícil. Essa mistura de relato autobiográfico com as histórias dos outros e as reflexões todas me pegou bastante. Amei e agora tô lendo Limonov - e adorando!
Pirei na indicação do Elefantes na Neblina!