Até hoje não aprendi a amarrar cadarços. Quase todas as vezes que saio para correr eles se desfazem. Na última maratona, meu medo deles soltarem era tão grande, que apertei-os com força. Funcionou, mas às tantas meus pés começaram a latejar, e tive que parar no meio para afrouxar o enlace. Até hoje tenho a memória da dor.
O comportamento dos outros perante meus cadarços me intriga. Fora do Brasil, ninguém diz nada, no máximo olham com cara feia. Aqui, é o contrário; minhas corridas são embaladas por gritos de “moça, seu tênis!”, “seu cadarço está desamarrado!” ou, simplesmente, “cadarço!”. Teve uma vez no parque que foram trinta chamadas, aí parei de contar.
Descobri que o brasileiro é um grande patrulhador de cadarços. Os avisos me irritam demais — será que tem algum corredor que não percebe quando o sapato está desamarrado? — e tenho vontade de gritar “EU SEI”, mas respiro fundo e respondo com um joinha. Ao mesmo tempo que esse fascínio com a vida alheia me incomoda muito, ele só acontece quando estou em casa. Para o bem e para o mal, nós brasileiros nos preocupamos um com o outro.
Com amor,
Paula
O Que Só Sabemos Juntos 🎭
Eu nunca tinha visto o Tony Ramos ao vivo. Tinha uma vaga memória dele atuando em uma ou outra novela que assisti pequena. Não sabia que ele tem mais de 60 anos de carreira. Não imaginava que ele deu vida a 149 personagens. E, definitivamente não sonhava que ele é um gênio no palco. Sua atuação foi com certeza o ponto alto da peça O Que Só Sabemos Juntos, em que ele contracena com a ótima Denise Fraga.
Quem viu o aclamado monólogo de Denise, Eu de Você, pode se decepcionar um pouco com o roteiro desse novo trabalho. Enquanto o primeiro é muito bem amarrado, esse atira para todos os lados, ao tentar abordar assuntos demais. São todos temas muito importantes — machismo, meio-ambiente e a passagem do tempo, entre outros — mas é muita coisa para abraçar em noventa minutos.
Posto isso, o texto provoca reflexões importantes. Fico pensando em quem foi ao teatro esperando assistir algo bobo com atores globais…Vão se surpreender! Me fez pensar na vida — naquilo que não estamos enxergando, no perigo do homem se achar o centro do universo, na dança das relações — e por isso valeu. E, claro, para descobrir o genial Tony Ramos. Bravo!
Quero maiZ: falando em filosofia, gostei dessa analogia pronunciada pela monja vietnamita Hoa Nghiem:
"Certo dia, um discípulo disse ao mestre: 'Sinto muito sofrimento dentro de mim; a vida é cheia de muitas dificuldades. Não consigo mais ver o caminho. Como posso continuar meu caminho? O mestre levou o discípulo para um campo aberto e lhe disse: "Olhe para cima, olhe para o céu; o que você vê? O discípulo disse: “Vejo o céu, vasto, azul e belo”. E o mestre disse: "Mas eu posso cobrir esse grande céu com apenas uma mão! O discípulo ficou espantado, mas o mestre colocou uma mão sobre os olhos do discípulo e disse: "Agora, o que você viu? O discípulo respondeu: “Escuridão”. Então o mestre disse: "É o mesmo em nossa vida. Às vezes, uma pequena dificuldade, uma palavra descuidada, uma percepção errada, é como uma mão que cobre seus olhos e você não vê o céu azul; sua vida se torna pequena e escura. Você deixa que a mão cubra seus olhos e bloqueie seu caminho, bloqueie sua vida'".
Giro de Restaurantes 🍽
Bottega Bernacca (Ibirapuera): o parque, nestes dias ensolarados de outono, está ainda mais bonito. Esta semana fui conhecer seu mais novo restaurante, o italiano Bottega Bernacca. Com cardápio semelhante ao das outras unidades — entradas, saladas, massas e proteínas — o carro-chefe aqui é o cenário; bonito demais almoçar embaixo das árvores.
Padoca do Mani (Itaim): a Padoca do Maní abriu uma unidade no Itaim, ao lado do também novo Manioca. A casa fica em uma esquina discreta — Pedroso Alvarenga com Rua da Mata — e serve o mesmo menu dos outros restaurantes. Aberto o dia todo, os pratos atendem desde quem quer tomar um café da manhã, até quem pretende almoçar ou tomar um café. O espaço é um pouco apertado, mas fui muito feliz no meu brunch. Uma dica para os veganos e não veganos; o iogurte de leite de coco com chia e granola de pistache é delicioso!
Pizza do Trattorita EVVAI (Delivery): a pizza mais gostosa que comi recentemente foi em casa, diretamente da Trattorita Evvai (a irmã menos rebuscada do estrelado Evvai). Pedimos duas; a tradicional Margherita, que leva mussarela Fior di latte, tomates San Marzano e manjericão fresco, e uma criação da casa, a “All Greens” (rúcula, agrião, limão confit e mozzarella). Feita com fermentação natural em um processo que demora 48 horas, a massa é assada no forno à lenha. Percebi na primeira mordida que os ingredientes eram da melhor qualidade. Soube que no restaurante a pizza é servida com uma tesoura, para cortar e comer com as mãos. Ótima.
Tasca do Zé e da Maria (Pinheiros): São Paulo tem muitos restaurantes portugueses, mas arrisco dizer que esse é o melhor. Localizado em uma esquina da Rua dos Pinheiros, é um restaurante caro, que presa pelo bom serviço em um ambiente elegante. Os responsáveis, Zé Maria Pereira e o chef Ernestino Gomes, fizeram escola no extinto Antiquarius. O bacalhau é a estrela da casa, servido em todas suas variedades. Os doces tradicionais portugueses são trazidos à mesa ao final da refeição, para que você escolha o seu. Delícia!
Agenda da NAZA 🚀
Ficou em São Paulo no feriado? Aproveite para fazer algum programa diferente. O nosso guia cultural de São Paulo está cheio de dicas. Clique aqui para conferir.
O Nosso Amor A Gente Inventa 💓
“O Nosso Amor a Gente Inventa” é o nome de uma música do Cazuza. Ele escreveu pensando em um amigo, que estava passando por um término difícil. Quando questionado sobre o significado da letra, Cazuza disse irritado: nos apaixonamos por uma imagem, e não pelo que a pessoa é mesmo…o nosso amor a gente inventa.
INSERT FRASE