Ser contemporâneo é, antes de tudo, uma questão de coragem: porque significa ser capaz não apenas de manter fixo o olhar no escuro da época, mas também de perceber nesse escuro uma luz que, dirigida para nós, distancia-se infinitamente de nós. Ou ainda: ser pontual num compromisso ao qual se pode apenas faltar.
Foi com essa frase, do filósofo italiano Giorgio Agamben, que a Noemi Jaffe abriu a última aula da oficina da qual estou participando, Escrita Radical: Experimentos para Escritores. A passagem reverberou tanto com o meu momento atual, que quis trazê-la aqui.
De acordo com Agamben, para ser contemporâneo é necessário criticar a conjuntura em que nos encontramos. A partir do momento que não condenamos o cenário atual, deixamos de ser contemporâneos. Estou simplificando muito um conceito que ele define ao longo de múltiplas páginas, mas entendi que a raiz do problema é essa.
Sendo assim, é intrínseco ao contemporâneo um estado de solitude, já que ele se sente um eterno “peixe fora d’água”. O bonito é que, na visão do filosofo, é deste lugar, ou deste escuro, que nasce o nosso propósito. É o que leva músicos a comporem canções, escritores a publicarem livros, mulheres a escreverem newsletters, e por aí vai.
Se por um lado me identifiquei totalmente com esta ideia, e diversas vezes me sinto deslocada, por outro fiquei com o seguinte pensamento: se muitos de nós nos identificamos com esta definição de contemporaneidade, podemos nos dizer contemporâneos? Será que este conceito se aplica aos dias de hoje, onde está todo mundo criticando alguma coisa? Em outras palavras, será que a maioria de nós não se sente um peixe fora d’água, até porque a nossa água está acabando?
Sei lá, tudo isso deu um nó na minha cabeça... Deixo aqui a reflexão para ficarem encucados junto comigo.
Com amor,
Paula
Giro de Podcasts 🎙
Passei semanas sem ouvir nenhum podcast. Para alguém que é meio viciada no meio, foi uma pausa necessária. Nos momentos em que costumo ouvir podcasts, preferi ouvir música, ou mesmo ficar em silêncio. Mas, nos últimos dias, comecei a sentir falta das vozes que me acompanham durante as minhas caminhadas pela cidade, e voltei as gravações. Deixo aqui uma listinha com os episódios que mais gostei:
Walter Isaacson no The Axe Files with David Axelrod: apesar de não ter lido a biografia do Elon Musk, adorei esta entrevista em que o escritor Walter Isaacson falou sobre a obra com o David Axelrod, que já foi Chefe de Estratégia do Obama, e hoje é diretor do Instituto de Política da Universidade de Chicago. Isaacson contou que para produzir o livro, ele passou dois anos grudado no Musk, participando de todos os momentos da vida do empreendedor (houveram apenas duas reuniões que ele não pode participar, já que elas envolviam assuntos de segurança nacional). Independente se você gosta ou não do Musk, vale ouvir o podcast pela qualidade da entrevista. Gostei de conhecer melhor as múltiplas facetas do polêmico magnata.
Ansiedade Climática do Vibes em Análise: neste episódio, os psicanalistas
e conversaram sobre a “Ansiedade Climática" ou, em outras palavras, sobre como a saúde do planeta tem afetado a nossa saúde mental. Para debater o assunto, eles convidaram a psicanalista e doutora em meio ambiente Ana Lizete Farias, que concluiu a sua fala com a seguinte frase: as crises são sempre oportunidades de destruir pressupostos, de romper naturalizações, promover releituras, fazer uma subversão. Ou seja, de criar uma nova versão da verdade que está exposta. Se quiser se aprofundar no tema, a dupla recomendou uma série de leituras sobre o assunto nesta edição da newsletter deles, a.Roberto Martini no B is the new A: no último episódio do podcast da empresa BPool, seus fundadores Davi Cury e Beto Sirotsky entrevistaram Roberto Martini, fundador da FlagCX, a maior rede de serviços criativos da América Latina (fazem parte do grupo empresas como Mesa, Obvious e Soko). Reconhecido como um dos líderes mais inovadores da sua geração, achei o papo do Martini super interessante, e me identifiquei com a visão de mundo dele. A conversa fica na intersecção entre a filosofia, e o pragmatismo corporativo. Adorei.
Por que cometemos os mesmos erros no Meu Inconsciente Coletivo: nesta conversa, a Tati Bernardi e o psicanalista
, o mesmo do Vibes em Análise, conversam sobre “repetição”. A dupla parte do conceito de Pulsão de Morte do Freud, e continua a discussão investigando o porque repetimos comportamentos. O primeiro episódio da nova temporada do podcast, que leva o titulo Unidos pela Solidão, também é ótimo. Quem participa é o , o mesmo da. Esta dupla está em todas!Fabrício Carpinejar no Daria um Livro: mais do que uma conversa, este podcast é uma oportunidade para ouvirmos o poeta Carpinejar recitar belas frases. Anotei algumas delas, e adorei ouvir ele falar sobre a sua relação com os livros desde a época da escola; fui teletransportada imediatamente para a biblioteca da escola onde estudei. Se preferir uma conversa menos esotérica, recomendo o último episódio com a Maria Prata, ou o papo com o psicólogo Alexandre Coimbra Amaral.
Quero maiZ: os podcasts que estão na fila para serem ouvidos são a série Collor vs. Collor produzida pela Rádio Novelo para o GloboPlay, os episódios com a Barbra Streisand e a Fran Lebowitz no podcast You and Me Both with Hillary Clinton, todo o conteúdo sobre a guerra no Oriente Médio do Plain English with Derek Thompson, e os capítulos sobre o Twitter (atual X) do Land of the Giants. E você, o que tem ouvido de bom?
Morning Show 📺
Outro hábito que retomei recentemente foi o de assistir séries. Como não tenho televisão em casa, e nas últimas semanas estava imersa na Mostra, tinha deixado as séries totalmente de lado. A desculpa perfeita para voltar ao streaming foi a terceira temporada de The Morning Show.

Gostei muito da primeira temporada, menos da segunda, e adorei a terceira, que infelizmente terminou esta semana. Se o elenco já era ótimo, ficou melhora ainda com a participação do John Hamm, o eterno Don Draper de Mad Men. Também gostei da breve aparição da June Diane Raphael, a hilária Brianna de Grace and Frankie. Os plot twists seguem a todo vapor, nos deixando cada vez mais presos a cada episódio. Agora é esperar a quarta temporada…
Assassinos da Lua das Flores 📽
Não é porque a Mostra acabou, que deixei de ir ao cinema. O filme da semana foi o novo do Scorcese, Assassinos da Lua das Flores.
A primeira coisa que qualquer pessoa provavelmente vai comentar sobre o filme diz respeito a sua duração: ele tem três horas e meia. De fato é muita coisa, mas curiosamente esse foi um dos elementos de que mais gostei do longa (literalmente). Em um mundo onde temos cada vez mais pressa, e estamos cada vez mais acostumados a milhares de estímulos por minuto, valorizo histórias que levam tempo para serem contadas. Foi estranho, mas também um grande alívio, assistir a cenas com longos diálogos, e pouca ação. Até porque, Scorcese decidiu criar um drama, e não mais um bangue bangue, para contar a história dos assassinatos dos Osage que ocorreram no início do século passado nos Estados Unidos.

O enredo é, infelizmente, em grande parte verídico, e foi baseado no livro homônimo de David Grann. Esta matéria resume um pouco a história, e conta como o FBI nasceu concomitantemente a essa tragédia. O elenco é espetacular, com destaque para a atriz Lily Gladston no papel de Mollie, e para o icônico Robert de Niro, em sua décima parceria com o diretor. Gostei muito, e você?
Quero maiZ: a primeira e única vez que entrei no TikTok foi para ver os videos que a filha do cineasta, Francesca Scorcese, fez com o pai. Este, por exemplo, conta com o Oscar, cachorrinho da dupla. Uma graça.
Design na Barra Funda 🪑
Neste final de semana, acontece a terceira edição do Design Barra Funda, do qual sou super entusiasta desde o início. Olha que legal a proposta deles:
O Design Barra Funda é um percurso a pé por ateliês, estúdios, antiquários e espaços de design, em um dos bairros mais generosos de São Paulo para as atividades criativas… O intuito do percurso é duplo: ampliar as relações com o território e fortalecer o campo do design na cidade/país. Ao abrir processos, fluxos, modos de organização, pesquisas e diálogos, os participantes convidam as pessoas a conectarem-se com esta dimensão fundamental que media a vida de todos, das atividades mais banais às mais transformadoras. Uma delimitação geográfica define o caminho que deve ser feito essencialmente a pé, pelas calçadas e pela passarela que atravessa os trilhos do metrô – e que, historicamente, definiu personalidades distintas para cada lado da Barra Funda, amplificando a diversidade de sua ocupação. O percurso conectará dezesseis paradas, e entre elas há várias oportunidades de deriva e descobertas. Esperamos vocês!
Circuito SP-Arte & Casa SP-Arte 🎨
Enquanto isso nos Jardins, acontece no sábado o Circuito SP-Arte, que vem para celebrar a abertura da ultima exposição do ano da Casa SP-Arte. "Eis o deserto, e nele me sonho. Eis o oásis, e nele não sei viver" é o nome da mostra, que propõe um diálogo entre os artistas Iberê Camargo e Oswaldo Goeldi. Promovida pela galeria Almeida & Dale, as obras selecionadas foram produzidas entre 1940 e 1990, e refletem uma percepção de tempo e espaço nos trabalhos de ambos os artistas.

Compondo o circuito estão 12 espaços, entre eles a galeria Luisa Strina, Galatea e Simões de Assis. A programação completa está no site, ou no post abaixo.
11 Exposições Imperdíveis em Cartaz 🖼
Falando em arte, esta semana publicamos no Instagram da NAZA um mini-guia com 11 exposições imperdíveis que estão em cartaz atualmente em São Paulo. Clique no post abaixo para ver a nossa seleção.
Elevado Conselheiro 🍸
Faltava apenas o Elevado Conselheiro para eu terminar o giro dos novos listening bars de São Paulo. Mas não é porque ele foi o último, que foi o que menos gostei. Ao contrário.
Enquanto achei o Matiz cheio demais para o meu gosto e o Dōmo maravilhoso, porém mais formal, o Elevado Conselheiro foi o lugar em que eu mais consegui relaxar. É despojado, a comida é deliciosa, e os drinks são bons. Tem até uma boa carta de vinhos. E, claro, o sistema de som é maravilhoso, perfeito para embalar um date, ou para curtir um bom som com amigos. Achei fácil, no melhor sentido da palavra, e muito agradável. Já quero voltar.
Agenda da NAZA 🚀
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O Bom Velhinho Também Surfa 🏄🏻♂️
Nó último sábado, fui conferir a exposição Histórias Indígenas, recém aberta no MASP. Ao descer as escadas que atravessam o vão de Lina Bo Bardi, vi a cena abaixo, em plena Avenida Paulista. Sim, é um carro com um Papai Noel, e duas renas e meia. Na hora, nem reparei que o Bom Velinho estava segurando uma prancha de surfe (estaria ele indo para um parque aquático? Ou para um empreendimento com piscinas de onda? Sinta-se a vontade para deixar a sua sugestão), porque fui direto olhar a data: 21 de outubro.
O último Scorsese é maravilhoso! Design na Barra Funda imperdível! Elevado Conselheiro graças a vc em uma semana fui 2X rsrs ! Grazie Naza!
O Walter Isaacson é fantástico, detesto o Musk mas estou super ansiosa para ler essa biografia, porque sei que é trabalho de extrema qualidade. E amei o novo do Scorsese também, as três horas e meia passaram voando por mim!