Todo ano, quando entramos em dezembro, começo a ficar mais reflexiva. Me pego olhando para os meses que passaram, tentando classificar o conjunto da obra como “bom” ou “ruim”. Nos últimos dias, fui e voltei várias vezes entre “foi o melhor ano da minha vida” e “para o mundo que eu quero descer!”, até concluir que tentar colocar 365 dias em uma caixa é um vício idiota. O que posso dizer é que 2023 foi um ano de muitas primeiras vezes.
Foi a primeira vez que vi o sol nascer quadrado (mentira, eu fui liberada da prisão antes do sol nascer, e não tinha janela na cela em que fiquei, mas quis dramatizar um pouco a história), que fui queimada por uma água-viva, e que vi uma cidade inteira pegar fogo na minha frente. Tive que sair voando, literalmente, para não queimar junto. Não foi a primeira vez que fugi de um assaltante, mas da outra vez o meu rosto não sangrou, e nessa nova ocorrência me refugiei dentro de uma sala de cinema. O filme era "Evil Does Not Exist".
Fui pela primeira vez em um double date com a minha mãe; ela com o pai, eu com o filho. A maratona de Berlim impulsionou o meu primeiro home exchange, com uma amiga até então virtual, que conheci através desta newsletter. Por falar em corrida, este foi o primeiro ano em que corri ao lado de cachorros, algo que sempre sonhei em fazer, e que corri ao lado do meu filhote favorito; a minha irmã.
Conheci o Pará, Pantelleria – uma ilha vulcânica quase na Tunísia – e a Patagônia. Desta última gostei tanto que voltei duas vezes. Na Colômbia, dormi em cima das ruínas da Ciudad Perdida, e pouco tempo depois saí em busca das minhas origens na Geórgia e na Armênia. Não encontrei nenhum parente, mas bebi bastante vinho ancestral; seriam eles os espíritos dos meus primos perdidos, presos dentro de garrafas rsrs?
Me encontrei no Yoga Aéreo, e desde então nunca mais consegui fazer outro tipo de prática. Toda vez que chega algum iniciante na aula, cobiço sentir de novo as sensações de quando estreei o tecido. Esta é uma primeira vez que eu gostaria de experimentar mais vezes.
Este foi também o ano que comecei a pensar no ato de escrever, e que me juntei a um grupo de escrita. Ainda não me sinto pertencente, mas este desconforto me estimula. Aliás, isso me faz lembrar que a síndrome da impostora não veio quando dividi o palco com mulheres que admiro muito. Tem primeira vez para tudo.
Concluo sem saber dizer se 2023 foi bom ou ruim, mas com a certeza de que foi um ano de muitas primeiras vezes, que trouxeram infinitos aprendizados. Enquanto estiver aprendendo, estou vivendo.
Desejo para todos nós muitas primeiras vezes em 2024.
Com amor,
Pulsa*
P.S. Por alguma razão, o corretor mudou o meu nome para Pulsa. Achei que valia manter assim.
Ponta de Lança 📚
Além de adorar a Livraria Ponta de Lança, estou gostando muito da newsletter deles, que mora aqui no Substack. Na última edição, a
recomendou livros escritos por diretores de cinema, entre eles Escritos corsários, de Pier Paolo Pasolini, A dificuldade de ser, de Jean Cocteau, Hitchcock / Truffaut: Entrevistas, de François Truffaut e Helen Scott, Quando o sangue sobe à cabeça, de Anna Muylaert, e Patty Diphusa e Fogo nas Entranhas, de Pedro Almodóvar. Esta outra edição reuniu ótimas dicas de presentes para as festas de fim de ano. Estou adorando o trabalho deles, e animada para ver o que vão aprontar em 2024.Arouche Aberto 📖
Falando em livros e leitores, está rolando agora um encontro no Largo do Arouche, reunindo a revista Quatro Cinco Um e a editora Tinta-da-China Brasil, em parceria com a editora Ubu. Esta é a quarta edição do evento apelidado de “Arouche aberto” em que, como nas edições anteriores, o público está convidado a conversar com a equipe e desvendar os bastidores da produção de livros e revistas. O evento vai até amanhã a noite, e é uma boa forma de adquirir livros com descontos especiais.
Founders 🎙
Quando um leitor me dá alguma dica, levo a sério e vou atrás. Foi assim que fui parar no podcast Founders, em que o pesquisador David Senra disseca a vida dos grandes líderes do mundo, de Winston Churchill a Anna Wintour.
Comecei ouvindo os episódios dedicados ao Napoleão, como forma de me preparar para ver o novo filme. Achei eles um pouco entediantes. Depois, ouvi o episódio que compara a vida do Picasso com a do Walt Disney. Preciso admitir, com todo respeito ao querido amigo que deu a dica, que não gostei nem um pouco.
Primeiro, acho o formato um pouco monótono, em que só uma pessoa fala sem parar; prefiro entrevistas ou conversas entre duas ou mais pessoas. Depois, achei um pouco reducionista a visão dele, ao pintar o Picasso como um monstro, e o Disney como um gênio. Gostei de conhecer melhor o lado escuro do pintor, mas acredito que as pessoas podem ser mais de uma coisa ao mesmo tempo. Posto isso, fica claro que o apresentador pesquisa extensivamente os seus sujeitos, o que respeito muito. Deixo aqui o link para vocês tirarem as próprias conclusões.
Quero maiZ: falando em podcasts, a atriz Viola Davis esteve em Salvador recentemente para anunciar o lançamento de seu estúdio de criação de podcasts, o Axé. Ainda não se sabe muito a respeito do projeto, mas li aqui que o primeiro produto deles vai ser uma série sobre Zumbi dos Palmares. Vou ficar de olho.
The Mushroom Club 🍄🍫
No início do mês, fiz um rápido tratamento com cogumelos da The Mushroom Club. O meu foi com o Reishi, um elixir milenar, que melhora a qualidade do sono e acalma o sistema nervoso, entre outros benefícios.
Estou adorando acompanhar a TMC, e feliz de ver que eles estão com cada vez mais variedades de fungos, como o Tremella e o Turkey Tail. Se você tiver interesse em saber mais, o Instagram deles é bem didático.
Lobozó 👨🏽🌾
Finalmente fui conhecer o Lobozó, restaurante de comida caipira paulistana que estava há tempos na minha lista. Fundado pelos chefs Gustavo Rodrigues e Marcelo Corrêa Bastos, que estão também a frente do Sororoca, e pelo sociólogo Carlos Dória, o Lobozó tem como objetivo reinscrever a tradição da culinária caipira na vida moderna. Vale muito a pena ler o manifesto deles, que ilustra como o Lobozó é muito mais do que um restaurante. O texto começa assim:
O Lobozó é um laboratório. Um laboratório onde cozinheiros experientes, que são seus sócios, trabalham no sentido de inovar uma tradição que, em São Paulo, estava quase extinta: a tradição caipira que unifica o que chamamos de Paulistânia.
Comemos super bem, começando pelo Vinagrete de polvo com Cambuci, e pelas Verduras tostadas com molho de paçoca. Continuamos a viagem pela paulistânia pedindo uma Caldeirada caiçara de peixe com camarão e banana, e encerrando com uma Torta de chocolate com castanha de pequi e creme fresco.
Fiquei com vontade de comprar alguns itens do armazém como a farinha de milho da família Bragato, o café selecionado que vem de São Tomé das Letras, os sorvetes da Escola Sorvete, e o livro, que inspirou o restaurante.
A pesquisa que deu origem ao Lobozó é a mesma que deu origem a um livro sobre a nossa culinária. Na sua imensa riqueza – expressa em quase 300 receitas constantes do livro - nós fizemos algumas escolhas para trazer aos nossos clientes. O lobozó. O frango caipira. O porco. Os cuscuzes.
Quem tiver interesse em conhecer melhor as raízes gastronômicas de São Paulo vai gostar.
Agenda da NAZA 🚀
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Um 24 maravilhoso para nós! E obrigado por dividir tantas experiências boas e dicas maravilhosas Paulinha! Bacio
Fiquei presa no double date com a mãe hahaha adorei. Feliz novo ano... o importante é se emocionar, sorrindo ou chorando.