Sempre amei o conceito de ficar jogada na rede, mas se for ser sincera, nunca consegui ser essa pessoa. Quando alguém me dizia que passou horas lendo um livro e cochilando na rede, ouvia com a maior admiração, mas essa nunca fui eu. Tirando quando era criança e usava a que tinha em casa como um balanço, minha agitação nunca me permitiu ficar na rede.
Mesmo assim, no ano passado comprei uma linda rede artesanal no Pará. Sabia que não a usaria, mas achei muito bonito o trabalho feito com fibra de buriti e tingimento natural. Coloquei no terraço e, durante um ano, a peça serviu apenas como decoração. Isso foi inclusive tema de algumas sessões de análise: por que é tão difícil para mim não fazer nada, e simplesmente curtir a rede?
Passados alguns meses, um fêmur quebrado, e um burnout, escrevo esta newsletter deitada na minha rede. Ainda não consegui pegar no sono, mas daqui já fiz reuniões, sessões de análise, e telefonemas. Há dias que quando vejo passaram-se horas, e eu estou aqui... Sigo fazendo mil coisas, mas pelo menos estou fazendo algumas delas deitada na minha rede.
Com amor,
Paula
Leonilson: Agora as oportunidades no MASP 👨🏻🎨
Abre hoje, no MASP, a retrospectiva Agora e as oportunidades do artista Leonilson. O texto curatorial da exposição diz:
Leonilson (1957-1993) é um artista tanto central quanto marginal na história da arte brasileira. Central porque é autor de uma obra absolutamente incontornável no final do século 20, reconhecido em muitas exposições, livros e mesmo em tatuagens. Mas ele é também marginal, pois, com uma obra tão singular, não se encaixa facilmente nos movimentos e gerações da história da arte brasileira. Sobretudo, Leonilson é marginal porque, no final dos anos 1980 no Brasil, é um homem gay e, a partir de meados de 1991, vivendo com HIV—ele morre dois anos depois, aos 36 anos, em decorrência da aids.
Trabalhando em desenho, pintura, objeto, bordado, tecido e instalação, Leonilson expressa intensamente suas paixões e emoções em suas obras, cujos temas são o amor, o abandono, a perda, a solidão e a doença. Porém, Leonilson também manifesta seus sentimentos em relação à política, como se vê na obra que empresta seu título à exposição, Agora e as oportunidades, em outros trabalhos da série das minorias e em diversas ilustrações feitas para a coluna de Barbara Gancia, entre 1991 e 1993.
Esta mostra tem como foco o chamado Leonilson tardio, o período maduro do artista em que ele refina sua linguagem e sua poética, usando cada vez menos elementos em suas composições—muitas vezes com traços religiosos—e atingido um ápice verdadeiramente sublime em ‘Instalação sobre duas figuras’ (1993). A despeito do caráter diarístico de sua obra, é importante compreender os trabalhos do artista não a partir de um interesse biográfico—pois ele frequentemente mescla verdade e ficção, biografia e fabulação—, mas, sim, por sua monumental construção poética, representada em imagens, materiais e textos.
A exposição está dividida em cinco salas—cada uma dedicada a um ano da produção de Leonilson entre 1989 e 1993—na galeria do primeiro andar do museu e em uma seção adicional no mezanino do primeiro subsolo, com as ilustrações para a Barbara Gancia. Mais de três décadas após sua morte, o artista continua nos oferecendo novas oportunidades de
leitura, inspiração e significação. A imagem que permanece de Leonilson, por meio de obras, exposições, livros, filmes, teatro e tatuagens, é a de um ressonante anti-herói, múltiplo e contraditório. Há um pouco dele em muitos de nós.

Megumi Yuasa na Gomide&Co 🖼
Outra exposição que abre hoje na Paulista é a individual de Megumi Yuasa na Gomide&Co. Sem expor individualmente desde 1998, o artista de 86 anos realiza na galeria uma retrospectiva que reúne obras realizadas ao longo de cinquenta anos. Megumi constrói ao longo de sua produção artística uma linguagem própria, dando forma a esculturas que combinam elementos variados, como argila, metais, limalhas e óxidos. Um mestre em seu meio, o artista enfatiza a comunhão dos ceramistas com a terra, defendendo que tudo o que está ao redor de uma obra faz parte dela e vai acompanhá-la ao infinito. É justamente essa relação dialógica, sempre imbuída pelo discurso filosófico e político do artista, que estrutura boa parte de seus trabalhos. A mostra foi organizada pelo artista Alexandre da Cunha, pela arquiteta Jaqueline Lessa, e pela pesquisadora Rachel Hoshino.
Grande Sertão: Veredas com Paula Carvalho📚
Todo ano prometo para mim mesma que não lerei nenhum livro contemporâneo, para poder me dedicar aos clássicos. Entra ano, sai ano e quebro meu juramento, me deixando levar pelos hypes do momento. Nessas, nunca li obras literárias importantíssimas, como Grande Sertão:Veredas. Aproveitei que a escritora Paula Carvalho está fazendo este Clube de Leitura para me aventurar na obra de Guimarães Rosa. Serão 4 encontros online aos sábados, das 11h às 12h: 31/08, 28/09, 26/10 e 30/11. A proposta é ler 110 páginas por mês, uma vez que o livro não tem capítulos. Custa R$50 para participar da leitura inteira (atenção: é para tudo, não por encontro!). Vamos nessa?
Quero maiZ: para me preparar para a leitura, ouvi a serie dedicada a obra da Radio Companhia, podcast da Companhia das Letras. São três episódios com personagens como os críticos literários Silviano Santiago e Érico Melo, a diretora de teatro Bia Lessa, o músico e escritor José Miguel Wisnik, o diretor de arte Alceu Nunes e as bordadeiras Elisa Braga e Celia Maria Silva. Tem até uma leitura com a Maria Bethânia na última parte. Adorei.
Giro de Documentários 📺
O Retorno de Simone Biles (Netflix): quem está sentindo falta das Olimpíadas pode gostar do documentário que conta a história de uma das maiores atletas de todos os tempos. O legal é que em vez de focar nas conquistas da ginasta, o filme trata de aspectos da intimidade de Biles, como seus desafios psicológicos. É bonito ver como ela precisou parar para voltar com tudo.

David Hockney - The Art of Seeing (Youtube): só assisti agora essa entrevista realizada em 2011 pela BBC, em que o jornalista Andrew Marr conversa com o grande artista inglês David Hockney. O papo antecede a grande exposição que o artista fez na Royal Academy of Arts em Londres, que tive a oportunidade de ver no ano seguinte na Califórnia. Adorei ver a relação do pintor com a natureza, e anotei algumas frases como: “if you like music, you like silence” e “an artist can support hedonism, but cannot be a hedonist himself. Artists are hard workers”. A qualidade da imagem no YouTube é bem ruim, mas valeu para conhecer melhor um dos meus artistas favoritos.

Rainha do Everest (Netflix): ainda não consegui assistir esse documentário, mas é o próximo da lista. A sinopse é a seguinte: Lhakpa Sherpa é uma mãe solteira nepalesa, que trabalha como lavadora de pratos e é também uma alpinista recordista, que arrisca tudo ao escalar o Monte Everest para garantir um futuro melhor para suas filhas. Foi fortemente recomendado, e a esta crítica só aumentou a minha curiosidade.

Agosto em São Paulo 🚀
Agosto é sempre um mês animado em São Paulo, com muitos eventos acontecendo depois das férias escolares. Criamos este post no nosso Instagram, com dicas do que vai rolar ainda este mês na cidade. Para acessar o guia completo, clique aqui.
eu achei que ia ler sobre redes sociais e li sobre uma rede concreta e literal. amei ✨️
Que honra estar no header com Moreno ❤️🎶 e co-co-cocada!