Passados quase 8 meses desde que descobri minha fratura no colo do fêmur, voltei a correr. Sem querer, acabei correndo no mesmo lugar em que senti o desconforto pela primeira vez. Na hora que comecei a trotar, passou um filme na minha cabeça.
Lembrei de quando senti o incomodo na perna pela primeira vez, e parei o treino no meio. As semanas que seguiram envolveram idas a fisioterapeutas, quiropratas, acupunturistas e massagistas, até eu acordar um dia com a sensação de que precisava fazer uma ressonância. Me recordo até hoje da cara da médica na hora que ela viu o resultado do exame; Paula, você quebrou o fêmur! Isso é muito grave, vamos precisar operar com urgência! Era um domingo de manhã, e eu estava lendo um livro e comendo um chocolate tranquilamente enquanto esperava o desenrolar da história, com a certeza de que não apareceria nada.
Entre esse momento e a minha cirurgia foram 40 dias. Me consultei com alguns médicos, tentei seguir o tratamento conservador (sem intervenção cirúrgica), mas a verdade é que uma das coisas que descobri durante todo esse processo é que tenho dificuldade com conservadorismo. Operei — achando que talvez morreria — e acordei algumas horas depois com 3 parafusos de 9cm no quadril.
No hospital, joguei muita tranca, recebi amigos queridos, sempre com a minha mãe ao lado. Ela não saiu de perto de mim nem uma vez nos 4 dias que passamos internadas.
O primeiro dia fora do hospital foi difícil; me lembro de olhar para fora da janela e chorar ao ver uma pessoa correndo. Foi desafiador tomar banho, colocar a meia de compressão, sentir os efeitos colaterais do anticoagulante, e me adaptar à cadeira de rodas. Foi puxado também não estar na minha casa, longe das minhas coisas e da minha cachorra.
Os dias foram passando, e fui me acostumando com a nova realidade. Voltei a treinar (fiz tantos exercícios para o braço que, de acordo com um amigo, fiquei parecendo uma jogadora de tênis), e desenvolvi métodos para me virar sem precisar de ajuda. Com o tempo, fui ficando mais confiante e passei a sair um pouco, começando pelo cinema.
O processo de reabilitação foi lento. Troquei a cadeira de rodas por muletas, depois por uma bengala, até poder caminhar de novo. Passei meses fazendo bicicleta, escada e o insuportável elíptico, até voltar no ortopedista semana passada e ele me dar alta total. Na consulta, olhei para os meus parafusos na tela do médico, e os agradeci. Por mais difícil que tenha sido tudo, não faria nada diferente; volto mais inteira, sem medo de pedir ajuda e de parar para respirar quando for preciso.
Com amor,
Paula
Giro de Podcasts 🎙
Esses foram alguns podcasts que curti recentemente:
Mo Gawdat no The Diary of a CEO: se tem uma pessoa que transformou uma tragédia em algo positivo é o Mo Gawdat. Nesse episódio, o empreendedor e ex-executivo do Google conta como a perda de seu filho o fez criar um projeto que ajuda milhares de pessoas a lidarem com frustrações, e a serem mais felizes. Inspiração pura.
Hermès no Acquired: os meninos do Acquired fazem um excelente trabalho de pesquisa, dedicando semanas para produzir cada episódio de seu podcast. Esse é sobre a Hermès. Ao longo de 4 horas (!) de conversa, aprendemos como a marca é totalmente avessa a padronização de tudo, se mantendo firme ao trabalho artesanal. Gostei mais desse episódio do que o da LVMH, que resenhei aqui; enquanto uma historia é sobre poder e conquista, a outra é sobre tradição e educação.
Will Guidara no TED Talks Daily: em apenas 15 minutos, o restaurateur Will Guidara dá uma aula de hospitalidade. Entre outras anedotas, ele conta como serviu um cachorro quente para um cliente em seu estrelado restaurante Eleven Madison Park.
Fernanda Torres no Se ela não sabe, quem sabe?: o novo podcast da Tati Bernardi é uma especie de Wiser Than Me brasileiro, em que a jornalista entrevista mulheres com mais de 50 anos. O primeiro papo foi com a Fernanda Torres, e foi demais. Gostei de ouvir ela falar a respeito das dores e delícias de ser filha da Fernanda Montenegro, da sua relação com os filhos e marido, entre outras coisas.
Tamara Klink no Trip FM: quanto mais acompanho a Tamara Klink, mais admiro a garota. Nesse episódio, a escritora e velajadora de 27 anos conta como foi passar 8 meses sozinha no Ártico durante o período de invernagem, em que tudo fica congelado. Vejam que bonito esse trecho da conversa: eu via a invernagem como uma chance de descobrir a verdade com V maiúsculo. A verdade sobre o que acontece quando um espaço que antes era navegável se torna terra firme, quando os animais e os sons vão embora e a gente fica no silêncio. A verdade sobre quem eu sou quando não tem ninguém ao redor, quem eu sou quando ninguém vai dizer o meu nome, quando ninguém vai me salvar ou me dar carinho, quem eu sou sem meu sobrenome. Eu vi a solidão muito mais como uma chance de descoberta sobre mim como humana, como indivíduo, como ser vivo, do que como uma punição ou uma dificuldade. A menina é muito sábia!
C'è Ancora Domani 🎬
C’è Ancora Domani (Ainda Temos o Amanhã), dirigido e estrelado pela italiana Paola Cortellesi, conta a história de uma mulher, Delia, no pós-guerra dos anos 1940 em Roma. O filme, gravado em preto e branco, fez tremendo sucesso na Itália. Achei bem simpático, e adorei ser surpreendida pelo final. A trilha sonora é ótima, com destaque para esta versão de Nessuno, que acompanha a melhor cena do filme. Está em cartaz em alguns cinemas.
Quero maiZ: assisti outro filme italiano no cinema recentemente, chamado O Sequestro do Papa. O longa, baseado em uma história verídica, conta a história de Edgardo Mortara, um menino judeu que foi secretamente batizado. Passado em 1858, o filme do celebrado diretor Marco Bellocchio é bem feito e tem ótimos atores, mas achei um pouco pesado para o meu gosto.
Martoca 🥖
A mais nova padaria de Pinheiros é a Martoca, da carioca Marta Carvalho. Ocupando um lindo espaço, a casa serve pães de fermentação natural, doces especiais, cafés elaborados e vinhos naturais, incluindo dois de rótulo próprio. Os queridinhos são o sourdough basicão e o pãozinho de azeite, além dos brownies, croissants, bolos e cookies. Abre de terça a sábado.
Clandestina 🧑🏽🍳
Não muito longe da Martoca, na casa onde há pouco tempo existia o Chef Vivi, fica o novo restaurante da chef Bel Coelho. O Clandestina trabalha com ingredientes de diferentes biomas brasileiros, como o tucupi da Amazônia, a castanha de baru do Cerrado, a uvaia da Mata Atlântica, e o azeite dos Pampas Gaúchos. Muitos dos produtos são orgânicos, provenientes de pequenos produtores.
Começamos com a salada de PANCs e com o tiradito de melancia, e seguimos com o prato de repolho assado com bok-choy servido sobre um purê de grão de bico com missô de cacau e castanha de caju. Finalizamos com o peixe do dia, e ficamos com vontade de voltar para provar o Tortelli recheado com queijo Quina da Queijaria Pé do Morro. Os drinks autorais estavam bons — talvez um pouco doces demais — e as opções de vinhos naturais são ótimas. Voltarei.
Agenda da NAZA 🚀
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Que bom que você operou e sarou! ♥️👈🏼
Paula, que bom saber da sua recuperação e sua volta à corrida. Gostinho de ouro olímpico. Rs.