Estaria mentindo se dissesse que quarta-feira passada, o dia que aposentei as muletas, foi um momento estritamente feliz. Afinal, foram três meses dormindo e acordando com minhas roxinhas.
Durante esse tempo, me acostumei a tê-las sempre comigo. De uma certa forma, é que nem a relação de um fumante com um cigarro; você sabe que aquilo não trás boas notícias, mas é um apoio que te sustenta nos bons e maus momentos.
Enquanto estive com minhas roxinhas, portas eram abertas, sorrisos compassivos eram distribuídos, e volta e meia aparecia alguém para carregar a minha bolsa, sempre tão levinha. Pessoas falavam comigo usando um tom mais baixo e carinhoso, como se um timbre alto fosse piorar a cicatrização.
Desde que levaram as minhas roxinhas, tenho carregado meu próprio peso, e nenhum taxista desceu para ajudar com a porta (pelo contrário, olham torto quando demoro para sair do carro). Está tudo bem; estou voltando a flanar pela cidade feliz da vida, mas hoje me peguei pensando que seria melhor se ajudássemos mais uns aos outros, sem precisarmos das roxinhas…
Com amor,
Paula
O Perigo de Estar Lúcida de Rosa Montero 📚
A escritora Rosa Montero está virando figura recorrente por aqui. Já recomendei o ótimo livro A ridícula ideia de nunca mais te ver, A Boa Sorte, e agora chegou a vez de O Perigo de Estar Lúcida, novo título da autora espanhola.
Confesso que não estava nos meus planos ler essa obra agora. Este ano, tinha decidido seguir a regra que eu mesma recomendei aqui (a de ler livros que foram lançados há no mínimo dois anos, para fugir das modinhas), mas quebrei-a mais uma vez quando a Noemi Jaffe me indicou a leitura, como preparação para o próximo NAZA Talks.
Em O Perigo de Estar Lúcida, Rosa Montero cita diversos autores como Emily Dickinson, Emmanuel Carrère, Proust, Dostoiévski e tantos outros, para exemplificar como por trás de muitas mentes criativas, existe uma boa dose de loucura. No paralelo, ela reconta episódios de sua própria vida, como ataques de pânico e a perseguição por uma stalker.
Passei da metade do livro e estou curiosa para ver onde vai dar; gosto da escrita de Rosa, que é muito criativa na hora de entrelaçar episódios autobiográficos com os de outras personalidades, como é o caso em A ridícula ideia de nunca mais te ver, em que ela mescla a sua vida com a de Marie Curie.
Quero maiZ: ainda temos alguns lugares para o próximo NAZA Talks. Vai ser na terça-feira que vem, a partir das 18:00, na Escrevedeira. Todos que participarem do encontro ganharão uma cópia autografada de Lili, obra de Noemi Jaffe. Para saber mais, entre neste post e, para se inscrever, mande um email para este endereço.
Mini Guia da Vila Madalena 🛍
Na última newsletter, contei que as aulas na Escrevedeira tem me feito frequentar mais a Vila Madalena. Durante alguns anos, deixei de ir ao bairro, por um preconceito; pensava que os barzinhos tinham acabado com a paz da vila.
Agora que tenho ido mais, vejo que é o contrário; a Vila nunca teve tantos ateliês de artistas, lojinhas charmosas, restaurantes deliciosos e espaços criativos. Aqui vai uma listinha dos lugares que tenho gostado de frequentar por lá:
Instituto Chão: na minha opinião, o Chão é melhor do que qualquer Whole Foods. A variedade de produtos orgânicos e agroecológicos é inacreditável, o conceito é respeitável, e o atendimento é primoroso. Abandonei os supermercados, e faço todas as minhas compras no Chão ou no Instituto Feira Livre, que também já apareceu aqui.
Alternativa Casa do Natural: a lojinha de produtos naturais do Alternativa Casa do Natural também é ótima, mas bom mesmo é o restaurante. Aberto de domingo a domingo, o bufê de comida vegetariana caseira é feito com ingredientes orgânicos, e tem um preço super justo. Para quem ainda não conhece, o Alternativa está há décadas no ramo de produtos naturais; eles nasceram em 1977 em Moema e na Rua Alagoas, e estão desde 1994 na Fradique Coutinho. Vejam que bonita a forma como eles descrevem o seu trabalho: nossa receita para uma vida longa é a união da tradição com o olhar para as novas tendências, as necessidades do mercado, assim como buscamos uma visão mais profunda dos processos, das empresas e dos fornecedores envolvidos. Acreditamos na sabedoria da experiência agregada à adaptação ao novo. Naturalmente, nos tornamos muito mais que um estabelecimento que oferece produtos e alimentos naturais e orgânicos, nossa casa tornou-se um ponto de encontro, onde amigos, parceiros de trabalho, famílias reúnem-se e, onde muitas vezes a magia da sincronicidade pode ser sentida. Nossa filosofia é Holística, ou seja, vemos o mundo como um todo integrado, como um só organismo.
Banana Verde: o restaurante também serve comida vegetariana, mas é mais sofisticado. Lá, o menu é à la carte, comandado pela super chef Priscilla Herrera. Vou para almoçar, ou para comprar os produtos da pequena mercearia, como a torrada de sementes, e as kombuchas da Companhia dos Fermentados.
Komah Bakery: estava contando os minutos para conhecer a padaria do restaurante Komah, que abriu no início do ano ao lado da loja Uma. Não pude comer nada por conta da limpeza ayurvédica que estou fazendo, mas fiquei com água na boca só de olhar para as guloseimas coreanas. O Komah Bakery fica na Rua Girassol, onde também estão outros restaurantes que já apareceram aqui, como o ChefVivi, o Camelia Òdòdó e o bar de vinhos Clos.
The School of Life: não tem como falar da Vila Madalena sem falar na The School of Life, escola dedicada ao desenvolvimento da inteligência emocional, que está no bairro desde 2013. Devo ter sido uma das primeiras alunas da escola e, desde então, nunca mais saí de lá. No ano passado, fizemos juntos o Salão Literário, que foi demais.
Quero maiZ: como estou fazendo uma dieta ayurvédica bem restritiva, estou escolhendo comer em lugares vegetarianos, mas a Vila Madalena tem restaurantes para todos os gostos. Dentre eles estão o delicioso Cais (frutos do mar), o Tanuki (japonês) e o seu irmão mais novo Yamanoie (omakase), o Martin Fierro (carnes), o Pasta Shihoma, o Lobozó (culinária caipira), o Quincho (plant-based), o Jacó (cozinha autoral) e muitos outros que já apareceram nessa newsletter.
Agenda da NAZA 🚀
Você sabia que uma vez por mês publicamos um guia cultural com tudo que tem de mais legal acontecendo na cidade? Pois é, a Agenda da NAZA já está na sua 22ª edição, e é uma forma de você se manter atualizado com o que tem de mais legal acontecendo na cidade. É também um jeito de você apoiar esta newsletter, para que ela possa continuar sendo gratuita. Clique no post abaixo para ter acesso ao que está rolando em São Paulo. Muito obrigada!
Paulinha, muito boa a forma como você descreveu as alegrias e tristezas relativas ao fim do período com as muletas! Deveríamos, mesmo, estar mais atentos aos outros, agindo com maior delicadeza. Um beijo
Querida Paulinha,
Adoraria estar com vocês, mas estou num período meio atrapalhado, com muita coisa para resolver e ajudar por aqui. Além disso, moro na Granja Julieta, próximo ao fim da Av. Santo Amaro, o que exigiria sair daqui bem mais cedo.
Acho que foi com a Noemi que, há muitos e muitos anos, fiz uma oficina de escrita criativa na Livraria da Vila na Fradique Coutinho. Eram tempos de menos trânsito, quando nos deslocávamos mais facilmente pela cidade. Lembro-me de ter gostado muito! Tenho certeza que o encontro de vocês será delicioso!
Um beijão e ótimo Naza Talks