Semana passada, fui almoçar com uma amiga em um dia de semana. Quando estávamos combinando os detalhes, ela me disse: vamos aonde você quiser, na hora que você quiser; eu estou totalmente livre nesse dia.
Em um mundo onde dias atarefadíssimos são o padrão, e o trabalho excessivo é enaltecido, achei a postura dela muito chique.
Entrei na onda e fiz o mesmo; não marquei nenhuma reunião ou compromisso depois do almoço, de forma que eu pudesse curtir aquele momento pelo tempo que quisesse, sem precisar ficar de olho no relógio. Quantas vezes não almoço cronometrando o tempo que vou levar entre pedir a conta, pagar, chamar o táxi, e chegar no próximo encontro.
Desde esse almoço, onde ficamos quase três horas conversando e ainda me permiti voltar a pé para casa aproveitando a cidade, não paro de pensar nesse culto ao trabalho e à exaustão. Tenho reparado cada vez mais como sustentamos esse comportamento nos nossos discursos diários, onde frases como “não tive tempo nem para respirar hoje”, viraram aceitáveis.
Cheguei à conclusão que estar sempre ocupado, não faz ninguém ser mais bacana. Respondendo à pergunta da última newsletter, acredito que o melhor presente que podemos dar nos dias de hoje é o nosso tempo.
Com amor,
Paula
Em Defesa do Descanso no Vibes em Análise 🎙
Não é de agora que falamos sobre o culto ao trabalho e a era da exaustão, mas na minha opinião, poucos fizeram um trabalho tão certeiro quanto os psicanalistas André Alves e Lucas Liedke neste episódio do podcast Vibes em Análise.
No episódio Em Defesa do Descanso, a dupla parte da seguinte reflexão:
O que a gente faz quando o culto ao trabalho nos deixa tão identificados com o que fazemos para ganhar dinheiro, que a gente não sabe mais o que somos fora do trabalho? E quando até o lazer, e a nossa vida social, também cansa? Nada parece ser mais difícil do que não fazer nada, até porque o vazio não entrega nenhum entregável.
Eu já contei aqui que não tenho a menor ideia do que significa não fazer nada. Inclusive, na minha última sessão de terapia, passei um bom tempo tentando desmistificar o que é descansar. Fiz várias perguntas, que talvez sejam óbvias para a maioria, como: ler um livro é descansar? Meditar é fazer nada? Mas e quando a sua mente não para de pensar e fazer sinapses, em ambas as situações? Para fazer absolutamente nada, preciso deitar na cama e ficar olhando para o teto? E se eu fizer isso, mas a minha mente começar a pensar em pautas para uma próxima newsletter?
Eu já ouvi o episódio abaixo umas 5 vezes, para ver se aprendo a descansar. Ainda não consegui rsrs, mas foi bom ser lembrada que até Deus, em diversas religiões, tem um dia de descanso. Recomendo muito.
O Parque das Irmãs Magníficas de Camila Sosa Villada 📚
Refletindo sobre o descanso, concluí que ler é um hábito que me faz bem. Não sei se ele pode ser classificado como descanso, porque fico bem ligada quando estou lendo, mas é um momento em que consigo silenciar a minha mente e ficar presente apenas com aquela leitura.
O último livro que devorei foi O Parque das Irmãs Magníficas, em que a escritora argentina Camila Sosa Villada narra episódios da vida de um grupo de travestis. Entre memória e ficção, Villada traz à tona registros da comunidade trans, evocando em sua escrita vivências de suas “irmãs magníficas", marcadas por preconceito e violência.
Gostei muito de conhecer melhor uma outra camada da sociedade, por mais que a conjuntura seja bastante dura. Para mim, ler sobre outras realidades é uma forma de me colocar no lugar de outra pessoa, e de exercitar a empatia. Deixo aqui um trecho da contracapa:
Quando chegou à cidade de Córdoba para estudar na universidade, a autora argentina Camila Sosa Villada decidiu ir ao Parque Sarmiento durante a noite. Estava morta de medo, pensando que poderia se concretizar a qualquer momento o brutal veredito que havia escutado de seu pai: “Um dia vão bater nessa porta para me avisar que te encontraram morta, jogada numa vala”. Para ele, esse era o único destino possível para um rapaz que se vestia de mulher. Camila queria ver as famosas travestis do parque, e lá, diante daquelas mulheres e da difícil realidade a que são submetidas, foi imediatamente acolhida e sentiu, pela primeira vez em sua vida, que havia encontrado seu lugar de pertencimento no mundo. O romance O parque da irmãs magníficas é isso tudo: um rito de iniciação, um conto de fadas ou uma história de terror, o retrato de uma identidade de grupo, um manifesto explosivo, uma visita guiada à imaginação da autora. Nestas páginas convergem duas facetas da comunidade trans, facetas que fascinam e repelem sociedades no mundo inteiro: a fúria travesti e a festa que há em ser travesti.
Quero maiZ: no prefácio do livro, o escritor argentino Juan Forn conta que soube de Camila Sosa Villada por meio de uma palestra no TEDx, que ela deu em Córdoba em 2014. Fiquei curiosa e acabei assistindo a apresentação da autora em que ela, visivelmente emocionada, conta como as circunstâncias da vida a levaram à prostituição. É um relato bem cru, triste e verdadeiro, como é o livro.
Maxwell Alexandre na Casa SP-Arte 👯♀️
Na Agenda da NAZA de setembro, selecionamos dezenas de exposições para os nossos apoiadores explorarem ao longo do mês. Fiquei feliz de conseguir visitar algumas delas essa semana, como Novo Poder: passabilidade, Miss Brasil, de Maxwell Alexandre. A mostra está lá na Casa SP-Arte, que ocupa uma casa original do artista e arquiteto Flávio de Carvalho.
Entre as mais de 20 obras inéditas em exposição, gostei dessa aqui abaixo, que poderia ser uma capa alternativa para o livro O Parque das Irmãs Magníficas.
Quero maiZ: Para se tornar assinante da Agenda da NAZA, e ter acesso ao nosso guia cultural de São Paulo, clique aqui.
Retratos Fantasmas de Kleber Mendonça Filho 🎥
Além dos livros, o cinema também é um lugar onde consigo silenciar a minha mente, e viver o momento presente. Deve ser por isso que vou tanto ao cinema; é um ato necessário para manter a minha sanidade mental rsrs.
Assisti recentemente Retratos Fantasmas, novo longa de Kleber Mendonça Filho, e me encantei. Como espectadora, por vezes acho difícil ver filmes autobiográficos que são muito nostálgicos. Se a história não for muito bem contada, acho que eles correm o risco de cair em um lugar narcísico, que só diz respeito ao autor.
Não sei se é porque eu sou apaixonada por cinemas de rua e por urbanismo, ou porque o Kleber Mendonça é muito sensível na hora de contar histórias, mas Retratos Fantasmas me fascinou. A cada dia que passa, me pego pensando no filme, e gostando dele ainda mais. Admiro o talento do diretor em conseguir transformar uma história tão pessoal, em um sentimento universal. Tem meu voto para representar o Brasil no Oscar. E vocês, gostaram?
Unidos Pelo Humor no Betoneira 🎙
Se tem alguém que provoca boas discussões sobre o tema de urbanismo e cidades, é a dupla de arquitetos Marcelo Barbosa e André Scarpa, criadores do podcast Betoneira. Desde 2020, o duo já produziu quase 80 episódios, em que eles entrevistam diferentes personalidades para falar de arquitetura e da vida das pessoas nas cidades.
Já falei aqui do episódio com o Marcelo Rosenbaum, e recentemente ouvi o episódio em que a atriz Martha Nowill fala sobre a experiência de ser mãe de gêmeos em uma cidade como São Paulo. Também gosto do episódio com o fotógrafo Bob Wolfenson, principalmente da parte quando ele fala que se perceber bonito é resultado de um trabalho interno, e adorei conhecer melhor a história do Danilo Santos de Miranda, que está a frente do SESC há mais de 50 anos.
Agora, se eu tivesse que escolher um episódio, seria o papo com o Gregório Duvivier. Entre devaneios sobre o carnaval, o Rio, o centro de São Paulo, e tantos outros temas interessantes, o que ficou comigo foi quando o Gregório disse que deveríamos deixar espaço para o inesperado acontecer nas nossas vidas. Nessa parte, que é logo no início do episódio, ele diz que não deveríamos ficar chateados com quem fura um compromisso, porque além disso te dar a liberdade de fazer o mesmo, também abre espaço para outras coisas acontecerem para além do planejado, como se apaixonar no meio do caminho.
Desde que ouvi essa fala, não parei de pensar nisso. Nos últimos anos, tenho trabalhado a minha capacidade de ser mais flexível e espontânea, e o que tem vindo disso tem sido maravilhoso. Agora vocês já sabem; se eu não aparecer para um encontro, não fiquem chateados - eu posso ter me apaixonado no caminho.
Poemas de Paulo Leminski 💌
Falando em se apaixonar, essa semana resgatei alguns poemas do Paulo Leminski. Vou deixar aqui dois dos meus favoritos:
Eu tão isósceles
Você ângulo
Hipóteses
Sobre o meu tesãoTeses sínteses
Antíteses
Vê bem onde pises
Pode ser meu coração
amei em cheio
meio amei-o
meio não amei-o
11 Restaurantes em São Paulo no Instagram da NAZA 🍽
Depois de quase um ano sem postar nada no feed do Instagram da NAZA, estreamos uma nova série de posts, em que vamos dividir as nossas últimas descobertas.
Tínhamos que começar pela barriga, obviamente, então a primeira série reúne 11 restaurantes que inauguraram há pouco tempo em São Paulo (alguns ainda vão abrir nas próximas semanas). Contem para nós lá no post se vocês gostaram, e quais novas séries vocês gostariam de ver por lá.
De Belém a Santarém no Brazil Journal 🇧🇷
E para fechar com chave de ouro, semana passada pude compartilhar um pouco das minhas aventuras pelo Pará com o Brazil Journal. É sempre uma honra escrever para eles. Para ler a matéria completa, clique aqui.
Queria ver! Eu adoro os filmes dele. Vou procurar onde passa aqui.
Ter tempo e liberdade é um grande patrimônio em nossas vidas!
Retratos Fantasmas é ótimo! Principalmente para quem ama cinema de rua como nós!